Versos de uma sobrevivente

Adelaide estava em casa

cansada de pratos lavar,

de olhos dormir,

de boca, escovar.

e, principalmente,

de mãos, boca e nariz lavar...

Luís Carlos, o pai, lia os jornais,

e ficava nervoso ainda mais,

com receio do desemprego,

ansiosamente se preocupava,

com o futuro, sua família, quase sem paz,

"Mas que danada abusada, será que não se vai?”,

Impacientemente pesquisa e olhava,

E o tempo parece que passava jamais.

Parecendo alheia a tudo, Benedita escreve,

e ri, e chora, lembrando daquele poema,

"Tudo vale a pena se a alma não é pequena."

E assim, ela tenta seus pais acalmar...

"Não é tão ruim assim, juntinhos podemos ficar..."

E na escrita ela enfeitava,

as cores, dores e amores que a envolvia,

Numa outra realidade criada,

que ao menos em sua mente persistia.

Depois de tanto vê-la escrever,

os pais começam a questionar.

"Mas o que houve, estás tão calada,

fica só nestes cadernos e livros,

nem celular usa... Parece saber de nada?”

"Mas se é verdade que a gente é o que come,

não quero ficar doente e nem morrer de fome,

Assim, para a esperança manter,

É preciso a mente alimentar.”

A filha pondera em seu mundo particular.

"Mas como isso é possível"...

Eles ficaram a se perguntar,

"Esta menina está neste mundo,

Ou em que lugar ela deve estar?"

"No meio do caminho tinha uma pedra."

Posso fazer desta um tropeço

ou uma alavanca a me impulsionar,

e assim, com a fé e força das palavras

busco a vida reinventar,

continua a jovem a falar.

Se fosse em outro tempo,

o pai retrucava,

poderíamos num psiquiatra levá-la.

Nossa filha não está doente, a mãe considerava,

na verdade este mundo é quem está!

“Por que estão deixando tanto se abater,

pelas mídias locais?”

A filha questiona.

“Há um grande mundo a descobrir,

não apenas o que é estampado nos jornais,

tampouco nas mídias eletrônicas,

misturadas com fakes news digitais.”

“Verdade!

Gritam os dois euforicamente.

“Conte este segredo para a gente,

suplicam seus pais!

E a jovem Benedita,

com sua experiência de 15 anos nas costas,

faz o que mais gosta de fazer,

Contar: “Era uma vez...”

Novos mundos e realidades das páginas brotar,

e o mundo como tal, ressignificar.

“Qual sua história favorita , filha?”

Começam os pais a questionar.

“Depende do dia...”

Tem momentos que prefiro suspense,

Com sequestro, roubo e ação,

E tem aquele tal de quem é o assassino,

E história de detetive e ladrão.

Mas noutros tempos é romance,

Com aventura e emoção.

Um pouco de comédia e melodrama,

cheio de amor e confusão.

Mas também gosto de história real,

Refletindo problemas da sociedade,

Do pobre, negro, favelado,

Mulher, indígena,

Contra a discriminação,

A favor da equidade.

Um outro tema

que me é muito caro

Diz respeito ao Sagrado,

Jesus Cristo com quem me abro,

Ele mudou a história

Em antes e depois dele,

Fez tanto pelo homem

Que até hoje ele é lembrado.

Tanto temas, tantas possibilidades,

que contarei uma história inventada.

Podem sentar e pegar a pipoca,

Usarei a melhor roupa,

Interpretarei sem precisar de mais nada.

Como não sabíamos deste seu lado?

Poético, apaixonado,

Fazendo-nos entrar na cena ,

Por Shakespeare nos deixando encantados.

Onde estávamos que não víamos nada disso?

Pergunta a mãe desolada.

Este período me fez ver,

Por mais que lutemos e queremos o melhor para nossa filha.

Isso não valerá nada

se não vivermos como uma real família.

Isabel Lima F
Enviado por Isabel Lima F em 12/04/2020
Código do texto: T6914955
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