empenho
Não estranha esse quebrantamento
Esse traspasso do esforço
Que se me apodere do paladar o gosto metálico do excesso
E ao mesmo tempo a lembrança vaga de alguma falta, de toda ela.
Não surpreende a visita súbita do espectro do desajeito
(O incidental e eterno padecimento de não saber nadar
A fantasia meio monstruosa do significado dos silêncios).
Esperável a intercadência da plenitude
A intermitência do arrojo
A volubilidade esquiva do fogo
E esse cheiro acerbo de medo que meu corpo eventualmente exala:
A luta ingente pela vida
(Na verdade, pela mais literal e superlativa sobrevida)
Os movimentos bruscos, as jogadas ousadas, as tantas ações inauditas
E a assunção lúcida de algum tanto risco
(Salpicar na vida alguma necessária imprudência
Imprescindíveis beiras de abismo
Margear desfiladeiros
Transpor inevitáveis frágeis pontes pingentes).
E ao mesmo tempo a limpidez dos limites, das precariedades,
Dos fantasmas, ilusões e realidades. Dos caminhos do mundo.
Que tudo tem custo, o indesculpável preço.
Tudo isso é tormento, agrura, paixão.
(...)
Mas me empenho todo nessa empreita
Empenho minha vida nela
Minha vida.