Sobre o jardim de minha alma

Não sou um bom jardineiro.

Olhando pela janela de minha alma percebo vastas áreas de terras enriquecidas e firmes, porém desprovidas de plantações e natureza.

Pergunto a mim mesmo o porque de terras tão promissoras estarem assim e recebo como resposta o quanto não sei lidar com minhas sementes.

Passo o tempo capinando, mas planto muito pouco. Isto faz meus músculos ficarem mais fortes e também construo grande paciência, mas jardinagem que se limita a limpar o terreno de nada serve...

Das sementes que já plantei gasto muito tempo regando aquelas que não brotaram, tentando ressucitar aquelas que morreram como também planto sementes em estações erradas. Sou uma pessoa perdida no tempo...

Trato meu jardim como se passado, presente e futuro estivessem vivos a todo instante e com isto não percebo quando se aproxima tempos de chuva. Não sinto as ventanias e sou indiferente ao calor e ao frio. Sinto tudo e nada ao mesmo tempo e com isto me perco ao jogar sementes em lugares errados, capino áreas em que haviam flores brotando e rego plantas daninhas.

Acontece que a vida tem sua própria natureza e sua natureza tem suas próprias leis. Não tenho árvores antigas e ricas porque não sei respeitar as leis do tempo. Busco dar nomes a sementes que nem mesmo sei o que brotam... Dispendo tempo em lágrimas por plantas que jazem mortas e com isto faço delas um mosaico de tristeza ao invés de torná-las adubo.

Toda estação tem seus próprios cultivos, mas desejo ter tudo ao mesmo tempo e como retribuição recebo somente a decepção e aprendizado de que ainda estou cometendo grandes erros.

Ainda não aprendi a reverter meu fracasso botânico, mas ao menos com isto tudo tenho percebido melhor o quanto a natureza é maior e mais rica que meu pequeno lote de ego. Penso que fazer florescer não é somente se esforçar, mas também sentir e respeitar. Aceitar que a chuva molha, o fogo queima, o vento leva e que da terra eu não passo mas posso tornar-me seu amigo.

Ser livre é aceitar as leis da existência. A mente em sua riqueza cria suas próprias bases, mas criar para dentro sem olhar para fora é rejeitar crescer. É colocar muros e cercados de sofrimento até o ponto de se tornarem labirintos... É sentir dor de si para si.

Na natureza existem tormentas, tufões e suas próprias pragas, mas para cultivar é preciso encara-las e não se prender aos próprios desejos.

Que cada um cuide bem de seus lotes, pois todo belo jardim solta suas sementes e talvez com elas algum dia removeremos todos nossos cercados e façamos do Mundo uma floresta de todos.