Jeito de Ser

1448289.jpg

Jeito de ser menina,
Usando laços de fita,
Nos cabelos cacheados.
Menina com ares de rica,
Trajada á moda antiga,
Com vestidos bem rodados, 
rendas, debrús e babados,
Bordados e coisas mais...
Menina religiosa,
Que aos domingos ia prosa,
Á Escola Dominical.
Mas era bem pobre a coitada,
E as roupas eram ganhadas,
Das riquinhas do lugar!

Jeito de ser menina,
Marota, travessa, moleca,
Assanhada xiveta, sapeca,
Levada mesmo da breca.
Menina de pés descalços,
Correndo fazendo poeira,
Brincando de barra-manteiga,
Passa anel, amarelinha,
Esconde -esconde, marré- marré.
Menina que aproveitava,
E se fingia quieta,
Saía devagarzinho,
E pé ante pé escondida,
Ia andar de bicicleta!

Jeito de ser mocinha,
Acanhada, bem magrinha,
Com ares de feiticeira.
Levantava bem cedinho,
Ia trabalhar na fábrica,
Para ganhar dinheiro
E assim andar bem faceira!
Mocinha cheia de sonhos
Que queria realizar,
Porém tudo era podado,
Expressamente proibido,
Tudo era muito vigiado,
Ah, como queria se libertar
bater asas e voar, voar, voar
imitar as borboletas,

Sonhava com gente contente,
Descontraída, diferente,
Livre, desimpedida,
Gente jovem divertida,
Que a ajudasse a se encontrar.
Mas, como sair do claustro?
Só se saísse voando,
Como fazia em pensamento.
Daí veio o casamento,
Com o primeiro que chegou.
Era seu primeiro amor
E assim toda de branco,
Véu e grinalda, um encanto,
Nova vida, novo lar, nova esperança
!
Jeito de ser mulher,
Jovem, cheia d’anseios,
de ilusões, devaneios,
de castelos inacabados.
Mulher moça, trabalhadeira,
Fértil, de ter filhos todos os anos,
Sempre de ventre redondo.
Ou com um bebê aos seios,
Mulher de vida dura,
de lavar roupas todo dia,
cozinhar com economia,
rodeada de crianças,
agarradas á sua saia,
e ela a lutar pela vida!

Jeito de ser mulher,
De sofrer ali calada,
De parir sem dar um grito,
De sufocar os gemidos,
E a vontade de chorar.
Mulher de semblante duro,
Pelas rudezas da vida,
Que qual vento foi passando,
Bem depressa, em frenética corrida!
Mulher que sente no peito,
Muito amor, muito desvelo,
E mais coragem pra lutar.
E nunca esmorecer,
Jamais desanimar

Mas em seu peito arde,
Como se alguém lhe falasse,
Você tem que se soltar.
Desejo de liberdade,
De correr de encontro ao vento,
Braços abertos no tempo,
Sentindo a brisa suave
Acariciando seu rosto,
Deixando os cabelos revoltos,
Esvoaçando suas vestes,
Como se tivesse levando
Todo e qualquer dissabor,
E sorrir para o resto da vida
Cercada de muito amor!



?id=1427186&maxw=120&maxh=120
 
Ahavah
Enviado por Ahavah em 16/10/2020
Reeditado em 16/10/2020
Código do texto: T7088575
Classificação de conteúdo: seguro