AINDA HÁ TEMPO
Vai pra reunião se sentindo importante,
paletó asfixiante, engravatado,
não liga pra quem está ao lado.
Muito ocupado em vigiar o mercado, suas ações na bolsa,
não percebe a moça com olhar terno,
que só o vê de gravata e terno.
Você que todos batem à porta,
gravitam em sua volta,
não tem nenhum desvelo,
só interessa o retorno financeiro.
Nega ajuda ao incapaz,
o lucro pulsa e quer sempre mais,
não atende a nenhum pedido,
envolvido demais com seu prazer, sua libido.
Refém do dinheiro no seu núcleo de poder,
não repara em quem o irá amparar,
no seu núcleo principal, seu lar.
Nada vê além da grana,
não quer saber se ela reclama,
se a chama do amor está por um fio,
só lhe interessa o poder vazio.
Vive enjaulado no seu castelo de sonhos,
cercado de bajuladores vis,
que respiram o ar que sai do seu nariz.
Quando seu império cair,
novos habitantes irão construir
lares de areia, tijolo, concreto,
com retidão de caráter, dignidade, afeto.
Quando for pro outro andar,
o que restará do seu reinado é um desenho amarelado.
Mas você ainda pode, não desperdice o tempo;
espalhe amor pelos canteiros, sobrados, esquinas,
não desmorone a vida em ruínas.