Cidade Blues

Gosto de sentar no bar da esquina

Tomar um café, olhar pra avenida

Vejo um homem vendendo cigarros

Vejo uma mulher que perdeu a saída

O semáforo pisca sem paciência

O mundo gira sem olhar pra trás

A placa caída diz "seja bem-vindo"

Mas ninguém pergunta se alguém vai ficar

Gosto de ver a correria urbana

Os carros passando, os pombos voando

Gosto de pensar que tudo é um engano

Que todos vão vencer até o fim do ano

Os casarões caindo como cartas marcadas

Os prédios cinzentos sem nome ou razão

O velho na porta me olha de lado

Talvez me conheça, talvez não

A cidade respira, cansada e sozinha

O tempo correndo sem pagar a conta

E quando a noite acender seus olhos

E quando a lua fingir que é sol

Vou seguir caminhando sem pressa nenhuma

Até que o dia me mostre quem sou.