Apenas silêncio...

Apenas silêncio...

E a multidão cala-se diante do decidido mundo.

Poetas pedem esmolas pelos quatro cantos da cidade

E aquele velho anjo chora atrás da porta,

Implorando por carinho.

A última rosa morreu...

Os homens, alucinados, gritam por liberdade;

E no entanto, invadem nossas casas em nome de um deus roubado.

Feridos, buscamos um templo esquecido pelos tempos.

Se faz tarde...

E no silêncio da noite a covardia toma conta de nossas almas;

Os labirintos malditos fecharam suas portas;

E já não temos tanta pressa.

Dos sonhos, restou apenas o fracasso de não sabermos arriscar.

O destino está muito além desse horizonte;

E o engraxate da quarta rua,

Brinca de faz de conta no lado escuro da lua.

Acostumados com o vazio, esses seres feitos de pedaços,

Carregam no colo restos de verdade.

Entre risos e tropeços,

Criaram-se abismos.

Entre amores e paixões,

Pecamos pelas palavras.

E de tudo que achávamos tão certo,

Esquecemos de ser gente.

Os sábios, afogaram-se em sua sabedoria;

Os profetas, perderam-se por entre seus rascunhos.

Os ateus procuraram por Deus.

E nada acontecia deste jeito.

Políticos e amantes tornaram-se um só.

Das promessas, chegamos até mesmo a pensar que restaria uma única princesa, um único cavaleiro...

A planar por entre as florestas

(agora tão desertas de amor)

O Sol padece diante dos absurdos da nossa existência.

E entre gritos e trovões,

Surge apenas o silêncio...

(escrita em 1991 - inspirado na Guerra do Golfo)

Daniela Peralles
Enviado por Daniela Peralles em 26/01/2006
Reeditado em 26/01/2006
Código do texto: T104176