Menino de Rua

O sinal fechou outra vez

Lá vou eu para mais um round

Minha luta apenas recomeçou

Penduro minhas balas no retrovisor

Só um real o pacote, obrigado

Mesmo para quem não comprou.

Na ida deixo as balas com um bilhete,

Explico minha situação

Como querendo tocar seu coração.

Logo você que esta sempre com pressa

Não tem tempo para ler o que estava escrito.

Fecha o vidro, me critica,

Manda-me trabalhar

Esquece-se que no país o que mais falta

É emprego, o que mais sobra é a fome.

Até para mim a concorrência é grande

Vendedores de farol existem aos milhares,

Flanelinhas, malabares

Em cada esquina lá estamos nós

Você que fecha a janela no farol

Está sempre com pressa e acha

Que todos somos bandidos

Não enxerga a mim que sou seu semelhante

Saiba que não estamos assim tão distantes

Olhe para mim agora.

Sou apenas uma criança que não devia estar aqui

Queria estar brincando, queria estar na escola,

Mas, enfrento com dignidade minha rotina.

Ao contrário, você, que se esconde

Atrás da cortina

Encaro a vida de frente.

Queria era estar sonhando para ao acordar

Não ver sua cara assustada

Pessoas que me criticam, mas, não fazem nada.

Daqui a pouco é Natal

Dá para ver as ruas cheias

Pessoas trocam presentes

Espírito de Natal

Mas, que espírito é esse?

Para mim é sempre igual,

Sou menino de rua, não tenho direito,

Para mim nada é feito

Quanto a você “senhor perfeito”...

Aquele par de patins que eu tanto sonhei,

Aquela bicicleta que nunca ganharei.

Você que esta com o porta malas cheio

Tudo pronto para a ceia

Festejando o que mesmo?

Aniversário de Jesus.

Família reunida, banquete, presentes

Só não esqueça de abrir a porta

E deixar o aniversariante entrar

Para com você festejar

Afinal o aniversário é dele.

Não esqueça de agradecer,

Não esqueça do discurso

Pois, ele assim como eu, ele assim nasceu,

Numa manjedoura, sem luz sequer,

Mas, espalhou a luz do amor a sua volta.

Tudo irradiou tudo transformou.

Eu acredito em Papai Noel sim

Não peço esmolas para mim,

Eu peço apenas um olhar

Não feche o vidro

Ao ver-me passar

E quanto às balas,

Se puder comprar...

Edson Satler
Enviado por Edson Satler em 07/02/2006
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