Olhos Secos
O bueiro pariu na saliva da noite.
A criatura engana a fome com o hálito das chaminés.
Nas esquinas do abismo, grita o silêncio do seu nome.
Quando o farol sangra, o homem acelera sua inércia.
Teme nascer flores sociais.
Fecha janelas, sonhos e ideais.
O ser vestido de áspera coragem,
Reza não o sabor das moedas,
Mas a ilusão do vidro,
Reflexo da face suja e doce.
Os racionais fogem e são devorados por sua consciência.
O concreto da política injeta fel na singularidade das estrelas.
A cidade entorpece os sorrisos, molesta os anjos.
Baco festeja a indiferença servida no asfalto com talheres de prata.
Os olhos secos chovem a escravidão da infância.
A inocente/indecente criatura adentra o bueiro e fuma as cores.