Olhos Secos

O bueiro pariu na saliva da noite.

A criatura engana a fome com o hálito das chaminés.

Nas esquinas do abismo, grita o silêncio do seu nome.

Quando o farol sangra, o homem acelera sua inércia.

Teme nascer flores sociais.

Fecha janelas, sonhos e ideais.

O ser vestido de áspera coragem,

Reza não o sabor das moedas,

Mas a ilusão do vidro,

Reflexo da face suja e doce.

Os racionais fogem e são devorados por sua consciência.

O concreto da política injeta fel na singularidade das estrelas.

A cidade entorpece os sorrisos, molesta os anjos.

Baco festeja a indiferença servida no asfalto com talheres de prata.

Os olhos secos chovem a escravidão da infância.

A inocente/indecente criatura adentra o bueiro e fuma as cores.

Fabrício Pires
Enviado por Fabrício Pires em 12/02/2006
Reeditado em 12/02/2006
Código do texto: T111090