Trem das ilusões

São sete horas da manhã,

o sol ainda nem flameja;

Anteriores ao dia, pousaram nas ruas

um grande número de crianças nuas

revestidas de obsessiva peleja.

Venceram a temível noite pretérita;

quantas mais vencerão?

Pecado meu, culpa tua,

ou corriqueira acomodação?

Eu, debruçado na minha janela

vejo tanta gente na estação,

na lida por uma féria de fome.

Arrebenta, à luz da realidade,

a corrente dos sonhos:

dos meninos abandonados,

dos homens da construção,

das mulheres da educação.

...E os navios de esperanças, naufragados.

O trem não pára na estação

de desembarque, de partida,

pois não há vagas na condução

que leva a vida

ao adequado patamar da isonomia.

As pessoas perdem a condução.

O trem quando passa,

passa apressado.

Os olhares do povo, nesta repetição, alienados,

o futuro subjugado na face

e a vida virou base

de garantia dos negócios arriscados.

Mas nunca descarrila

a máquina da fantasia.

São sete horas da noite,

agora esta gente aparenta agonia.

Porém, há exíguo espaço na estação,

pois alguns viventes não venceram ao dia.

Uns barcos obliterados no turbulento mar,

força inútil para se libertar

da corrente marítima

que é o amor,

outra embarcação de ilusão e dor.

Mas o trem não pára na estação.

O desencanto dos tempos desliza

nos soturnos trilhos da vida.

...E a vida não vai além da ilusão.

Cid Rodrigues Rubelita
Enviado por Cid Rodrigues Rubelita em 16/03/2006
Código do texto: T124091