Vida de pobre

Todos os dias se levanta antes do sol

pega correndo o trem da Central

sem se despedir da mulher

porque o tempo é curto.

Chega ao trabalho já cansado, amassado

para ganhar seu pão salgado de suor e sangue.

Bate o cartão como máquina

e entra na rotina diária.

Volta para casa, amassado, cansado,

os filhos dormindo, a mulher esperando

chorando porque não tem o que jantar.

Vai dormir de barriga vazia

que amanhã é outro dia,

acordar cedo e batalhar.

Fim do mês o salário

magro, mirrado

mas vai se levando a vida,

dinheiro só pra comida

e quando dá, fazer uma fezinha no bicho,

quem sabe o dia o milhar...

Vida de pobre é isso:

sonhar de barriga vazia.

Mauro Gouvêa