Forca
Enquanto lá fora
Cai uma chuva fina
De molhar bobo
Eu cá entretido
Espano o bolor da memória
E retorno a um canto de Minas
Mais precisamente no lugar
Onde passei meus dias de infante
Na fazenda de nome gramiais
Onde o Estado só se fez chegar
Travestido de tributos exorbitantes
Mas como garantidor de direitos, jamais.
Quando lá chegou o Estado
Com sua corrente de aço inoxidável
Levou à forca a diversidade do Serrado.
Enfeitado de progresso iminente
Engoliu as florestas centenárias
E o resto de esperança daquela gente
À míngua como os leitos dos rios.
Enquanto, enfeitado de luminárias,
Ressequido, o vale se transforma num lugar sombrio.
Cortado por estradas e redes de energia
Que ligam e movimentam o niilismo
O Jequitinhonha definha na perpetuidade da agonia.