Forca

Enquanto lá fora

Cai uma chuva fina

De molhar bobo

Eu cá entretido

Espano o bolor da memória

E retorno a um canto de Minas

Mais precisamente no lugar

Onde passei meus dias de infante

Na fazenda de nome gramiais

Onde o Estado só se fez chegar

Travestido de tributos exorbitantes

Mas como garantidor de direitos, jamais.

Quando lá chegou o Estado

Com sua corrente de aço inoxidável

Levou à forca a diversidade do Serrado.

Enfeitado de progresso iminente

Engoliu as florestas centenárias

E o resto de esperança daquela gente

À míngua como os leitos dos rios.

Enquanto, enfeitado de luminárias,

Ressequido, o vale se transforma num lugar sombrio.

Cortado por estradas e redes de energia

Que ligam e movimentam o niilismo

O Jequitinhonha definha na perpetuidade da agonia.

Cid Rodrigues Rubelita
Enviado por Cid Rodrigues Rubelita em 30/05/2006
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