FACA, PÃO E DENGUE


Zumm...Zumm...Zumm...ZZZ...Zumm...Um...m...
mmmmmm...

Lá vem o mosquito de novo,
zumbindo na curvatura da orelha,
perturbando e zunindo no sono do povo;
voa zombeteiro,
pousa silencioso
voa vôo zumbido... zumbi.
Lá vem o mosquito de novo!

Assim como faca
enterrado no corpo
tira uma lasca
do resto do povo.
Sem sombra e sem dúvida
no vôo do esnobe
esbarra no rico, cutuca no pobre,
espalha-se, e diverte-se: metonímico,
com o choro de um povo fétido.

Cada dia mais gente se atraca
na fila do posto, na maca,
_ esperando o remédio que cai lá do céu!

Assim como faca,
a lâmina corta
o desejo do povo.
Assim como faca,
o aço na forja
fere o destino de novo.

Faca que corta o pão
que alimenta a massa
misturada por João,
que trabalha na feira:
_ picado pelo mosquito da Dengue, em plena segunda-feira.


Faca que forma o formão,
que corta o artista
da televisão.
Fica o ator esticado na cama,
viaja o personagem
dissimulado com a fama:
_ picado pelo mosquito da Dengue em pleno fim-de-semana.

Febre:
enfermaria, quarto particular.
Tosse!
Noite e dia
desfalecido,
o doente começa a cantar.
Quadro patético,
desespero de novo
dengoso, viroso: aidético!
João e Maria
estatelados na maca,
estrêlas da noite,
notícias do dia.

Quadro horroroso,
vertiginoso e sem razão.
_O Homem cortou os pulsos
com a mesma faca
com que cortara o pão.



AVIENLYW - (2/3/2002 )