ANJOS

Vão chegando devagar,

De pontos diversos vêm.

Agrupam-se, pouco a pouco,

Em quase círculo, irmãos,

Partilham o objeto da fé.

Sentados, pernas unidas,

Cabeça pendente,

Une-se às mãos,

Assim permanecem,

Tempo passando,

Em contrição.

Finda a vigília,

Erguem-se e vão.

Circulam, sem destino,

Começam outra oração.

E seguem, há mais pedidos,

Agradecem, ou não.

Um se destaca,

Parece aflito,

O corpo contorce,

Talvez em transe.

Não olham ao alto,

E eu estranho:

Afinal, onde anda aquele Deus?

No céu deles, estrela é néon,

E pisca, é notícia,

Gira veloz num telão.

Cansados agora,

Quem sabe, aflitos,

Por um milagre

Não pedido.

Absolvição, Luz Divina,

Pra sair da escuridão.

Não é um enxame,

Nem a vida é mel.

Não é um bando,

Pois ave, só no céu.

Mas são anjos,

Tortos, perdidos,

Asas podadas,

Pés e corpo no chão.

Almas presas, submissas,

Ao vício:

Perdição

(numa noite qualquer, em local público, eu ouvia o som delicado do chorinho tocado por um grupo de músicos e observava um grupo de jovens, que ali bem próximos, alheios a tudo, se drogavam; a eles dedido esta poesia, na esperança de que as preces deles e as minhas sejam ouvidas, e num futuro próximo, estejam assim como eu, viajando só na música)

Maria Luiza Falcão
Enviado por Maria Luiza Falcão em 04/07/2006
Código do texto: T187685