ANJOS
Vão chegando devagar,
De pontos diversos vêm.
Agrupam-se, pouco a pouco,
Em quase círculo, irmãos,
Partilham o objeto da fé.
Sentados, pernas unidas,
Cabeça pendente,
Une-se às mãos,
Assim permanecem,
Tempo passando,
Em contrição.
Finda a vigília,
Erguem-se e vão.
Circulam, sem destino,
Começam outra oração.
E seguem, há mais pedidos,
Agradecem, ou não.
Um se destaca,
Parece aflito,
O corpo contorce,
Talvez em transe.
Não olham ao alto,
E eu estranho:
Afinal, onde anda aquele Deus?
No céu deles, estrela é néon,
E pisca, é notícia,
Gira veloz num telão.
Cansados agora,
Quem sabe, aflitos,
Por um milagre
Não pedido.
Absolvição, Luz Divina,
Pra sair da escuridão.
Não é um enxame,
Nem a vida é mel.
Não é um bando,
Pois ave, só no céu.
Mas são anjos,
Tortos, perdidos,
Asas podadas,
Pés e corpo no chão.
Almas presas, submissas,
Ao vício:
Perdição
(numa noite qualquer, em local público, eu ouvia o som delicado do chorinho tocado por um grupo de músicos e observava um grupo de jovens, que ali bem próximos, alheios a tudo, se drogavam; a eles dedido esta poesia, na esperança de que as preces deles e as minhas sejam ouvidas, e num futuro próximo, estejam assim como eu, viajando só na música)