FAVELA

A Senzala fugiu da Casa-Grande,

ganhou as avenidas

e subiu nos morros.

Em suas ruas estreitas,

rostos suados e pernas bem-feitas...

Todos correm apressados.

Em cada casebre,

velhos rugosos e rostos imberbes

procuram, dia a dia,

ganhar o pão e o chão.

Nem sol, nem chuva

nem a lei da gravidade

abalam a firme estrutura

desta pseudocidade.

Mil novos Quilombos

se erguem aos tombos

na chamada civilização,

com rios de asfalto

e palmeiras de plástico,

sem cor nem umidade:

São Palmares de verdade !

A Senzala mudou de nome;

batizaram-na Favela

que por nós vela,

do alto do morro.

Tornou-se Casa-Grande

e todos nós, restantes

nos transformamos na Senzala

da Cidade Grande.

Marcelo Lopes
Enviado por Marcelo Lopes em 09/06/2005
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