Faz de Conta

Faz de conta senhor,

Que não existe moradias em palafitas,

Que todos tem casas grandes e carros.

Que todos tem uma linda e perfeita vista.

E de minha pessoa ninguém tira sarro.

Faz de conta patrão,

Que temos tudo o que queríamos,

Que nossos móveis são bons e limpos,

Que do passado com prazer rimos,

E nossos problemas são tão ínfimos.

Faz de conta só por uma vez,

Que minha realidade não é suja,

Que não tem esgota a céu aberto,

Que não é essa coisa feia, imunda,

E a vida não é dura como o concreto.

Faz de conta só hoje,

Que meu chuveiro não é a chuva,

Que minha cama não é a escadaria,

Que minha vida não é essa coisa nula,

E minha existência é uma maravilha.

Faz de conta plenário,

Que meu sonho é aquilo que peço,

Que meu mundo é verde e tem esperança,

Que após a ordem sempre vem o progresso,

E o meu voto não é só uma extravagância.