Para um homem simples não morrer
De Edson Gonçalves Ferreira
Ilustração de Heraldo Alvim
Quéde o pranto que a muié chorou ontem
Cadé o riso que o bebê ensaiou
Qual a queixa que a Maria resmungou
Quanto custou a carne, subiu?
A caderneta?
O suor, José?
Levanta, meu bem, o sol já ensaiou fadiga
Engole café no suspiro do aumento
Mordica no sabor do pão esperança
Enfia na camisa furada parcos sonhos
Calça os sapatos, José!
Vai cantar na massa o compasso do salário-mínimo
Anda depressa, José, olha o cartão de ponto!
Não empura, há gente e calos
Da sola até na alma
Cuidado com o seu, José
Não empurra pra descer
Todos os santos ajudam, José!
Guarda a marmita na sombra
O feijão com torresmo azeda, José
O arroz com bife de terceira estraga
E a verdura melhor onde está, José?
Olha a sirene, o dia findou
O sol descamba, mas no seu corpo o calor
Vai prolongar por bem tempo, José
Corre ao chuveiro José
O macarrão está esfriando, ó José!
Vem dormir, Joseeeeeé,
Banoite, José!
Exercício de hoje e sempre
De Edson Gonçalves Ferreira
Ilustração de Heraldo Alvim
Antecipo os sonhos e o feto
Antecipando séculos no suspiro de ontem
Antecipandando manhãs tardais do hoje no sempre
Antecipado fui na ante sala do tempo
Anteciparando-me poemas nas ilusões carnívoras
Antecipou-me alvoradas na agonia do meu nunca
Antecipado fui
Antecipado sou
Anteciparei espíritos nas tardes de hoje e ser(ei)
Divinópolis, Minas Gerais, 1975
Registro histórico:
Esses poemas foram publicados em 1975 através de uma nova forma de livro o Múltiplo Poético Plástico número 1, que foi criado pelo poeta Edson Gonçalves Ferreira e pelo artista plástico Heraldo Alvim. Originais escaneados acima.
Saiam folhas de livros avulsas que eram xerocadas e distribuídas. Houve adesão dos poetas Lázaro Barreto, Sebastião Benfica Milagre e Osvaldo André de Melo. A criação dos Múltiplos Poéticos Plásticos teve divulgação internacional.
Eles circulavam pela cidade e, via correio, naqueles tempos, chegavam às capitais e foram lidos e comentados por vários escritores como: Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, Oswaldo França Júnior, Rachel de Queirós, Menotti dell Picchia, entre outros.
O Múltiplo foi, inclusive, registrado no Catálogo de Imprensa Alternativa do Arquivo da Cidade pela Fundação RIOARTE, órgão da Secretaria Municipal das Culturas/Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, iniciativa de Maria Amélia Mello, coordenadora do Centro de Cultura Alternativa criado em 1980,
Abaixo, o poeta Edson Gonçalves Ferreira ao lado de Jorge Amado em Feira Nacional de Livros, em Brasília, em 1985.
Saiam folhas de livros avulsas que eram xerocadas e distribuídas. Houve adesão dos poetas Lázaro Barreto, Sebastião Benfica Milagre e Osvaldo André de Melo. A criação dos Múltiplos Poéticos Plásticos teve divulgação internacional.
Eles circulavam pela cidade e, via correio, naqueles tempos, chegavam às capitais e foram lidos e comentados por vários escritores como: Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, Oswaldo França Júnior, Rachel de Queirós, Menotti dell Picchia, entre outros.
O Múltiplo foi, inclusive, registrado no Catálogo de Imprensa Alternativa do Arquivo da Cidade pela Fundação RIOARTE, órgão da Secretaria Municipal das Culturas/Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, iniciativa de Maria Amélia Mello, coordenadora do Centro de Cultura Alternativa criado em 1980,
Abaixo, o poeta Edson Gonçalves Ferreira ao lado de Jorge Amado em Feira Nacional de Livros, em Brasília, em 1985.
