Frágil homem de pedra

Eu te chamei aqui para conversar.

Mas pareces que queres fugir!?

Não precisas te preocupar

Pois eu não vou te ferir.

Eu apenas vou te mostrar

Tua mediocridade que te faz existir.

Vou passar na tela da tua mente

Toda a tua retrospectiva

Tu verás arduamente

Que a Terra era festiva

E agora infelizmente

Não está nem mesmo viva.

Vês aquela floresta imensa?

Ela não mais existe assim

Antes ela era densa

E existiam animais, ouro e marfim.

Mas como errado você pensa

Logo a conduziu ao fim.

Acabaste com as coisas bonitas

E tu procuras uma ave de belo canto

A ave acharás em livros e revistas

Mas o canto perdeu o encanto.

Estas coisas poderiam ser infinitas

Se não tivesses provocado pranto.

Procuras um selvagem bicho

Ou mesmo qualquer planta

Mas acabaste também com teu nicho

E nada mais encanta.

Transformaste o mundo em lixo

Onde nada mais encanta.

Achas-te mesmo com coragem

Por lançar ao céu um avião?

Mas és mesmo um selvagem

Que tem uma profunda ingratidão.

E com toda a tua voragem

O enegreceu de poluição.

Olhas para o céu agora

E vês que está triste e escuro

O sol, a lua e as estrelas foram embora

E tu sabes o que será do futuro.

Tu vês e não fazes nada com o povo que chora

Por um lugar mais seguro.

Vês agora os rios, oceanos e mares

Que antes tinham tanta e bela vida

Mas tu, por errado pensares

Abriu neles uma ferida.

Que para tu cicatrizares

Será árdua e amarga tamanha lida.

Tentarás achar peixes e plantas aquáticas

E ainda chamará as enormes baleias

Mas as tuas vontades fanáticas

Tornaram mares, rios e oceanos imundícies feias.

Tornando as águas estáticas

E na verdade não honras o sangue de tuas veias.

Procuras ainda por tubarões e golfinhos

Mas nada resta nos mares do teu planeta

Pois teus desejos mesquinhos

Os transformaram em sarjetas.

E não adianta discursos endireitando colarinhos

Pois és como os grandes e falsos exegetas.

Levo-te agora para a terra firme e fria

Para um passeio pelas ruas de alguma cidade

O que vês é melancolia

E uma grande infelicidade.

Pois falta poesia

E sobra saudade.

Vês o povo que morre de fome

E que não tem mais luz

Que morre de frio e que some

Pois o túnel tornou-se escuro e a nada conduz.

A tristeza a todos consome

E esqueceram Jesus.

Há crimes, desemprego e violência

Há doenças várias e desabrigo

Porém a tua ganância e insolência

Faz-te teu pior inimigo.

Já não há mais paciência

E tu precisas de um castigo.

Pronto já desliguei a tela

Mas permaneces como mesmo olhar duro

Porém guiando tua moderna caravela

Afogar-te-ás um dia no mar escuro.

Que não é mais como o azul da aquarela

E também não é mais puro.

Eu te falo de amor

Um tolo sou, é o que falas

Mas quando sentes uma dor

Tu simplesmente te calas.

E quando algo te causa horror

Tu arrumas tuas malas.

Tu falas assim porque nunca amou nem foi amado

Nunca acariciou nem recebeu carinho

Sempre viveste pelo dinheiro e concreto armado

Nunca plantaste flor e sempre colheste espinho.

E mesmo tendo tudo para ser acompanhado

Sempre viveste sozinho.

Dizes que és feliz

Mas confundiste a felicidade

Sempre tiveste o que quiseste

Mas nunca soubeste o que fazer na verdade.

Deixou tua vida por um triz

Embora hoje te escondas, sentes saudade.

Eu te falo da Natureza

Dizes que é bobagem ecológica

Então eu te falo da sua beleza

E dizes que tudo foi feito na lógica.

Porém, sinto uma leve tristeza

Na tua voz que soa demagógica.

Eu te falo dos pobres, velhos e crianças

E deixas a cabeça pender

Talvez eu comece a ter algumas esperanças

De que também estejas a perceber

Que o perdão ainda alcanças

Pois estás a sofrer.

Pela liberdade tu tanto clamas

Porém, mau uso fez da que te dei

E tu te enganas nas infernais chamas

Quando pensas que te deixarei.

Pois mesmo que a ninguém ames

Ainda assim te salvarei.

Mas ameaças-me com uma arma

Porém, não sou matéria e sou indestrutível

Eu sou o pensamento que te arma

E que te faz incrível.

Eu sou aquele que também te desarma

E para ti eu sou invisível.

Então me bates na face direita

Atinges o vento e pergunta quem sou.

Ofereço a face esquerda e tu enjeitas

E tu insistes ainda no que perguntou.

Digo que à minha imagem a tua foi feita

E que sou aquele que te criou.

E como teu criador

Oh, pobre e infeliz mortal

Mesmo sentindo grande dor

Não te perdoo mais pelo teu mal.

E mesmo que por ti sinta amor

Condeno-te a voltar ao lamaçal.

Não! Não chores não

Pois não vai adiantar nada

És Homem de Pedra, de pedra no coração

A última chance há muito te foi dada.

Não terás mais meu perdão

E agora tua vida está terminada.

Cícero – 29-12-94

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 22/08/2012
Código do texto: T3844175
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