Como os velhos pais
Não quero lhe falar, meu eleitor
Das eleições que perdi no passado
Quero lhe contar como eu venci
E tudo o que eu roubei de ti
Dormir é melhor que votar
Eu sei que o voto é uma coisa à toa
Mas também sei que qualquer grana
É melhor que a vida de qualquer pessoa.
Por isso cuidado eleitor
Há perigo nas urnas
Elas fecharam
E o dinheiro está para nós que somos políticos.
Para enganar meu irmão
E beijar sua esposa na rua
É que se fez o meu braço, a minha lábia e a minha voz.
Você me pergunta pela minha reputação
Digo que estou em campanha
Para mais uma eleição
Eu vou ficar nesse congresso
Não vou voltar para o sertão
Pois vejo que vindo no vento
O dinheiro de mais uma eleição
Eu guardo tudo no bolso sem fim
Do meu jaquetão.
Não faz tempo eu vi você na rua
Me aplaudindo, gente tola reunida
Na parede da memória
Essa lembrança é a que satisfaz mais.
Hoje eu sei que quem me deu a ideia
De uma nova inconsequência e roubalheira está em casa
Rezando para Deus e admirando o vil metal.
Minha alegria é perceber
Que apesar de tudo o que roubamos
Vocês continuam os mesmos e votam
Como os velhos pais.
Nossos candidatos ainda são os mesmos
E as aparências enganam sim
Vocês dizem que depois deles
Não votaram em mais ninguém
Vocês podem até dizer que eu estou por fora
Ou então que eu estou inventando
Mas são vocês que são mal informados e que não vêem
Que a política de novo nada tem.
Minha alegria é perceber
Que apesar de tudo, tudo, tudo o que roubamos
Vocês continuam os mesmos e votam
Vocês continuam os mesmos e votam
Vocês continuam os mesmos e votam
Como os velhos pais.
Cícero – 03-10-97