Como os velhos pais

Não quero lhe falar, meu eleitor

Das eleições que perdi no passado

Quero lhe contar como eu venci

E tudo o que eu roubei de ti

Dormir é melhor que votar

Eu sei que o voto é uma coisa à toa

Mas também sei que qualquer grana

É melhor que a vida de qualquer pessoa.

Por isso cuidado eleitor

Há perigo nas urnas

Elas fecharam

E o dinheiro está para nós que somos políticos.

Para enganar meu irmão

E beijar sua esposa na rua

É que se fez o meu braço, a minha lábia e a minha voz.

Você me pergunta pela minha reputação

Digo que estou em campanha

Para mais uma eleição

Eu vou ficar nesse congresso

Não vou voltar para o sertão

Pois vejo que vindo no vento

O dinheiro de mais uma eleição

Eu guardo tudo no bolso sem fim

Do meu jaquetão.

Não faz tempo eu vi você na rua

Me aplaudindo, gente tola reunida

Na parede da memória

Essa lembrança é a que satisfaz mais.

Hoje eu sei que quem me deu a ideia

De uma nova inconsequência e roubalheira está em casa

Rezando para Deus e admirando o vil metal.

Minha alegria é perceber

Que apesar de tudo o que roubamos

Vocês continuam os mesmos e votam

Como os velhos pais.

Nossos candidatos ainda são os mesmos

E as aparências enganam sim

Vocês dizem que depois deles

Não votaram em mais ninguém

Vocês podem até dizer que eu estou por fora

Ou então que eu estou inventando

Mas são vocês que são mal informados e que não vêem

Que a política de novo nada tem.

Minha alegria é perceber

Que apesar de tudo, tudo, tudo o que roubamos

Vocês continuam os mesmos e votam

Vocês continuam os mesmos e votam

Vocês continuam os mesmos e votam

Como os velhos pais.

Cícero – 03-10-97

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 06/09/2012
Código do texto: T3868090
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