O empecilho

Ainda era madrugada

Acordou e se preparou para o trabalho

Pegou a marmita bem tampada

E pôs na bolsa a tiracolo junto ao baralho

Para jogar com os amigos no almoço.

Ovo, feijão e arroz

Na marmita era o que tinha

O trabalho não podia ficar para depois

Desceu o morro para a rotineira ladainha;

A caminhada era longa.

Beijou mulher e filhos esperando voltar

Tomou a condução

Que o levaria próximo ao serviço

A construção estava por terminar

Mas os perigos

Eram como espinhos de um ouriço.

As ruas já movimentadas pela manhã.

Não chegou a trabalhar naquele dia.

Aliás, jamais trabalharia.

Não veria filhos, mulher e irmã.

Morreu no tráfego. Tornou-se empecilho

Para os carros, para o público

Não era um simples andarilho

Mas era nada na vida, no lúdico.

Tudo voltou ao normal

Seu caso foi esquecido

Aliás, jamais fora lembrado

Pois não exercia papel social

Onde predomina a ambição

Da omissão de um tempo perdido.

Cícero – 26-11-93

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 20/04/2013
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