Morte Pública

A morte é, mesmo, espetáculo

Que se paga ou não pra ver.

Ajeita o seu sustentáculo,

Veja melhor a tevê.

No programa policial,

Corpo, só, no matagal.

Reportagem no jornal

Disse que era um marginal.

Passagem por roubo, tráfico.

Sequestrador, homicida.

E a notícia do fim trágico

Até foi bem recebida.

A quem quer que se incrimine,

Fez na justiça um atalho.

Não é polícia a trabalho,

Mas o crime, contra o crime.

Sua mãe, inconsolável,

Chorava copiosamente.

"Um trabalhador decente..."

"Pra que isso, minha gente?"

No velório, só a família.

Quadrilha não manda flores.

Vítimas não mandam flores.

Polícia não manda flores.

Testemunha tornou pública,

Ignorou a última súplica.

Do celular pra internet,

Várias fotos do pivete.

A morte é, mesmo, espetáculo

Que se paga ou não pra ver.

Para muitos é um pináculo

Notícia ruim na tevê.