Petições do lado de cá - Vozes do (des)cárcere

Tragam-nos qualquer coisa que nos diminua a carência

que nos faça sentir tocados pelos olhos de humanização.

Tragam-nos aquilo que desminta que estamos endurecidos demais,

que sentir já não caiba na carcaça do peito.

Todas as emoções permanecem conosco!

Tragam-nos, pois, qualquer naco de dignidade pessoal.

Que se possa varrer para longe, um tempo que seja,

a personificação sem alma que nos pintaram!

Tragam-nos esperanças que pairam do lado de lá,

entardeceres negados nessas paragens,

pôres do sol com sonhares de infância -

quando eu crescer…

Tragam-nos as possibilidades que tanto se fala,

e não vemos!

Olhos nossos de cada dia, embaçaram na falta de luz.

Tragam-nos amanheceres!

Cores do alvorecer que devolvam tonalidade à retina,

o vislumbrar de um café com os filhos,

miragem qualquer de mãos que afagam.

visões libertárias pelos olhos de Gulliver.

Tragam-nos, o passar das horas,

o esquecer do tempo em função de sonhar,

a diminuição da pena,

o desvencilhar da rotina,

a libertação do pensamento,

o ouvido atencioso,

o texto que não foi lido

a música aos ouvidos,

o epitáfio para ser corrigido.

Tragam-nos livros, também.

É claro!

Instrumento primeiro de nossos contatos.

(Poesia brotada no presídio - Projeto Remissão Pela Leitura)