A MATA
Lilian Maial


Num instante combustível 
A casa ardendo, o choro árido 
No canto do olho, a remela cinza
O fogo lambendo a cria
Um cheiro seco de sangue e seiva
Evaporados verdes.

As águas paréticas se arrastam mais tristes
Lamento de cachoeira 
Em suas curvas, mais uma árvore 
Sucumbe à ganância e ao descaso
Gemido de seiva escaldante.

Sumaúmas e jatobás,
Tucanos e sabiás,
Tatus e jaguatiricas,
Nas presas do metal
Nas labaredas insaciáveis 
Um boto agoniza na margem esquerda do Jari.
Queimam-se as lendas,
Abrem- se as ventas,
Mãos postas, olhos cegos
À espera de uma palavra de amor.

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