Era uma vez uma floresta, verde e amarela



Era uma vez uma floresta, verde e amarela
que, num repente, se avermelhou.
Um rio de madeira que passava em meio a ela,
efervesceu, ebuliu, virou vapor.

Passava também por lá outro rio. Era negro.
Escravizado e já acostumado a ser marcado
com ferro em brasa, a ninguém pediu arrego.
Sua cor ameniza ao vestir-se de lama cinza.

Lama: leito de rio em floresta ao abandono.
Ama: forma sincopada do extinto amazonas.
Arma: síncope cerebral de governos do mal.
Alma: é ser, é vida, é criatura, clara chama.

Madeira - claro! - virou cinza.  Negro, tição.
Fauna esturricada.  Passarada em revoada.
Flora queimada. Terra talhada para doação.
Governo submisso. Festa. Gente assustada. 

Depois da tempestade, bonança mais tarde.
"Managers Mineration", enquanto o fogo arde,
pintarão essa região com cores de sua nação.
Lágrima não seca nas secas: olhar indignado.  

E tal país será só metade depois da entrega:
menos conflito com os sem-terra que sobrem;
menos silvícola, negros, miseráveis e pobres.
Metade morta na floresta, outra metade cega.

E na celebração da independência desse país,
palanque para políticos, altares para pastores.
Um lado para o militar, outro para os seres vis
admirarem os olhos azuis dos seus invasores.

Aí, o fogo desvenda o ocultismo do terrorismo
e ilustra, na galeria internacional da desgraça,
o afresco cruento, pigmentado de neonazismo,
da equatorial hileia...  sob cortinas de fumaça.

                    (fernandoafreire)

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Para o texto: A Floresta (T6739337)
De: Verdana Verdannis
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Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 21/09/2019
Reeditado em 22/09/2019
Código do texto: T6750342
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