Nosso cérebro é assim...

O nosso cérebro é assim,

Ele gosta de certezas:

Hoje acordarei disposto!

O café da manhã vai me fortalecer!

No trabalho saberei tudo o que é preciso fazer.

O carro que me leva vai trazer-me de volta,

Sua mecânica está ótima,

Pneus, água , óleo, tudo nos conformes,

Tudo bem ajustado, sei que nada se solta.

Receberei o abraço de minha amada.

Ao descer o café estará na mesa,

Quentinho, assim como o banho que tomei ao acordar.

Às vezes as certezas são mais complicadas,

Mas, mesmo assim são certezas:

A fome não será saciada totalmente,

Andarei a pé por quilômetros até chegar ao trabalho,

Meus braços continuarão doendo como no dia anterior,

O salário irá acabar antes do fim do mês chegar,

A cesta básica irei buscar a pé:

Graças a Deus o carrinho de feira consegui concertar!

Os filhos se saciarão na escola,

Não terão muito a comer quando retornar ao lar,

Um pão seco, um suco de laranja ou um chá,

Mas sei que o amor não irá faltar.

E ainda os mais idosos,

Que certezas eles terão?

De a TV não falhar como no dia anterior,

Que as chuvas cessarão e poderão ir ao quintal, e

Um pouco de sol tomar.

Que as dores se amenizarão,

Ao menos pela manhã, a tarde irão voltar,

Quem sabe um pouco mais tarde,

Cheguem para me visitar.

Meus olhos vacilarão, meus netos crescendo estão,

Não os vejo plenamente, mas o cheiro do perfume fica em minha mente,

Meus filhos irão me abraçar,

Os que moram longe me telefonarão,

Certezas, tantas certezas.

O cérebro é assim, gosta de saber o que vai acontecer.

Mas, e se tudo falhar, de repente tudo mudar?

Sem certezas, sem projetos, tudo a deixá-lo inquieto.

O pobre cérebro indefeso tateia,

Busca em seus arquivos consolo para sua tristeza,

Mas, logo conclui:

Contra tal situação, há certezas de montão,

Dentro de cada ser há como me convencer,

Se eu não sair, ele não vai entrar,vamos combinar!

A não ser o desinformado que não se coloca em seu lugar.

Lavar bem as mãos, ficar em meu lugar,

Reinar em minha casa,

Para ele aqui não adentrar,

Fazer minhas orações com as portas fechadas,

Agradecer a vida, contida por mais um dia,

Para poder O louvar,

Evitar situações, não ir a comemorações, nada de jantares ou festas,

É hora de dar valor ao dom maior que nos foi dado,

A vida que não é tirada daquele que fica isolado,

O abraço fica para depois, beijinhos só pelo zap,

Feliz com certeza, descansarei ao anoitecer,

Nada que me repreenda me fará aquecer,

Cercado de muito carinho, deitarei no travesseiro,

E me restaurarei depois de meu soninho.

Sérgio Ricardo de Carvalho
Enviado por Sérgio Ricardo de Carvalho em 23/03/2020
Reeditado em 25/03/2020
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