A Doença

Cresce o vírus

Sua marcha avança

Por todos os lados

Ninguém se espanta

Mas cresce o vírus

E todos correm

Alguns não vivem

Outros não morrem

Cresce o vírus

E o amor sentiu

A dor no peito

Crescia a mil

Crescia a curva

As estatísticas

Menosprezaram

Os especialistas

E todos cantam

Espantam os males

O vírus guarda,

O gran finale:

Escorrem as lágrimas

Derretem as faces

Do bem e mal

Nenhum milagre.

E das janelas

As vozes clamam

Olhai senhor.

A terra chama.

E as janelas

Sorriram em cantos.

Iluminando.

Todos os prantos.

O vírus grita:

- Enfermos, enfermos!

Eu trago a paz

Não tenham medo

Minhas crianças

Eu sou o flagelo

Eu sou a voz

Do novo século

A nova aurora

Não é maldade

Mas vou invadir

Sua cidade

Não é castigo

É reação

Faltou amor

E compaixão

Faltou prudência

Faltou astúcia

Faltou razão

De quem é a culpa?

Chefes globais

Diziam-se líderes

Jogando dados

Pra ver quem vive

Será o filho,

A mãe, o pai.

São os grisalhos

Viveram demais

Então decidem:

- Tudo parou!

Depois voltamos

A todo vapor

E com esse caos

Querem troféus

Vai custar caro

O azul do céu

São as finanças

Na abstinência

Sua ganância

Sem consciência

E Cresce o vírus

O ar respira.

O mar se lava.

A terra vibra.

Cresceu o vírus

Em seu silêncio

Descendo o rio

Com seus tormentos

Seguiu viagem

Aos quatro ventos

Chegou aos lares

Não há mais tempo.

Subiu os preços

A estupidez

Sumiu a estrada

Ninguém às seis

O dia é tímido

Com poucos passos

Inacreditável

O noticiário

Mas cresce a dor.

Desconfiança

Lá fora é o fim.

Aqui esperança

Veio o comboio

Eram caixões

Nas funerárias

Alguns milhões

Fecharam as portas

Ergueu barreiras

No coração

Artérias, veias.

E nas fronteiras

Só existem muros.

O vírus cresce

Por cima de tudo.

Ninguém mais sobe

Ninguém mais desce

A terra cai,

O céu estremece

E egoísmo

Ganhou palanque

Apostou vidas:

Ceifadas aos montes

A fome assombra

A morte espreita

Ninguém levanta

Ninguém mais deita.

De cabeça leve

No travesseiro

Fechar os olhos

É traiçoeiro

Não há mais pão

Não há mais leito

Deixem os corpos

Salvem o dinheiro

Os sonhos morrem

Nem pesadelos

O real já basta

Ao desespero

O vírus cresce

Coloca dúvidas

Não há saída.

Cadê a cura?

E falta ar.

E vão-se os mestres

Iniciantes

Alguns moleques

E vão-se os auges

De muitas glorias

Sucumbem

Ao vírus

Muitas histórias

E cresce o vírus

Mas nascem heróis

Salvando o dia

E alguns de nós

E nada será

Como era antes

Que o sol brilhe

Mais radiante.

Ilumine a todos

Novo horizonte

Esquecer jamais

Vamos adiante

Mas cresce o vírus

E a estupidez

A estrada some

Ninguém às seis.