Minha prisão

Quando nasci já havia um teatro preparado para mim, tudo tinha nome e função determinada. A família tradicional com papai e mamãe, os papéis sociais, a escola, os cargos e os impostos. Quando eu nasci já havia um lugar na Terra reservado para mim; o mesmo lugar que fora escolhido para minha família ocupar.

Quando eu nasci minha profissão tinha sido escolhida e até quantos anos eu teria de vida.

Deram-me um sexo, uma sexualidade, um idioma e as cores da roupa que eu iria usar.

Quando eu nasci, foi marcado o endereço exato para minha cova, no cemitério público da cidade, e diminuíram o tempo para eu não viver muita idade.

Quando eu nasci disseram que eu não teria futuro, não sairia das fronteiras da pobreza e que minha vida seria plena de dor e tristeza.

Me deram uma religião, me marcaram como ovelha num campo de criação.
Quando percebi que as chaves das cadeias estavam em minhas mãos, nada fiz para me libertar, tive medo de não sobreviver fora da prisão.

Mas a poesia me guiou para veredas impensadas, encontrei válvulas de escape e soltei outros prisioneiros.

Com as palavras estou tentando fazer uma revolução!
Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 23/02/2021
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