Ó Rima...

Ó rima, acho que prima,

és do poema a cigarra

que alegra e dá garra

à formiga que se anima

verso abaixo, verso acima

a trabalhar o versejo,

tal e qual o realejo

que empolga o cantador

nas lindas trovas de amor

à mulher de seu almejo.

Ó rima, além do arpejo

que faz vibrar a palavra,

tu és na jeira e na lavra

o adubo do motejo

pra semear o desejo

donde brotará a trova

que à luz dará em prova

se o fruto é bom ou não

ao rimar com coração

a primeira boa nova.

Ó rima, defunta à cova,

os versos em liberdade

já sequer sentem saudade

do labor que se comprova

mas que hoje se reprova

entre o fátuo snobismo

que usa o versilibrismo

pra mofar e humilhar

quem bem gosta de rimar

a vida sem egoísmo.

Ó rima, comigo cismo

e sempre hei-de cismar

que a arte de versejar

sem ti teria o abismo

aberto entre o cinismo

do mundo a enlouquecer...

Herdei-te por bem querer

nos juvenis tempos meus

do exímio João de Deus

e contigo hei-de morrer.

António Torre da Guia
Enviado por António Torre da Guia em 28/11/2005
Reeditado em 30/11/2005
Código do texto: T77398