Estige
Se um toque de carinho
Pudesse afagar meu rosto
Talvez eu rumasse para outro caminho
Onde eu teria sensações diferentes do desgosto
Mas esse toque nunca foi dado
Em vão esperei pelo anjo salvador
A vida desde a concepção me deu um recado
Disse que até a morte eu viveria em dor
E essas lágrimas agora derramadas
Umedecem o caminho árido do sofrimento
As felicidades eternamente esperadas
Nunca chegaram e frustraram o esperado momento
Se um sorriso simples sempre negado
Tivesse colidido com meu mundo sombrio
Por ondas de satisfação eu teria navegado
Mas agora com Caronte parto em um navio
Cansado de esperar pelo que nunca chegou
Pelo rio Estige dirijo-me ao acolhedor inferno
Triste o sentimento final que me abraçou
No seio da Morte encontro abrigo materno
E não posso me lamentar pelo que não tive
Por muito tempo fui escravo da loucura
Se em nenhuma memória um resto de mim sobrevive
Tampouco eu esperaria dos anjos, dos deuses ou das alturas
Mas a opressão da solidão abraça
Afaga e massacra toda esperança
Se antes havia em mim uma pequena graça
Hoje meu coração nenhum amor alcança
Nada restará sobre esse que tanto sonhava
Até porque minha reclusão me afastou da alegria
Não culpo ninguém por eu perder o que amava
Pois só na Morte, paz e abrigo eu encontraria
Dedicado a Shelly, o codinome de um grande amor