Estige

Se um toque de carinho

Pudesse afagar meu rosto

Talvez eu rumasse para outro caminho

Onde eu teria sensações diferentes do desgosto

Mas esse toque nunca foi dado

Em vão esperei pelo anjo salvador

A vida desde a concepção me deu um recado

Disse que até a morte eu viveria em dor

E essas lágrimas agora derramadas

Umedecem o caminho árido do sofrimento

As felicidades eternamente esperadas

Nunca chegaram e frustraram o esperado momento

Se um sorriso simples sempre negado

Tivesse colidido com meu mundo sombrio

Por ondas de satisfação eu teria navegado

Mas agora com Caronte parto em um navio

Cansado de esperar pelo que nunca chegou

Pelo rio Estige dirijo-me ao acolhedor inferno

Triste o sentimento final que me abraçou

No seio da Morte encontro abrigo materno

E não posso me lamentar pelo que não tive

Por muito tempo fui escravo da loucura

Se em nenhuma memória um resto de mim sobrevive

Tampouco eu esperaria dos anjos, dos deuses ou das alturas

Mas a opressão da solidão abraça

Afaga e massacra toda esperança

Se antes havia em mim uma pequena graça

Hoje meu coração nenhum amor alcança

Nada restará sobre esse que tanto sonhava

Até porque minha reclusão me afastou da alegria

Não culpo ninguém por eu perder o que amava

Pois só na Morte, paz e abrigo eu encontraria

Dedicado a Shelly, o codinome de um grande amor

Paulo Raven
Enviado por Paulo Raven em 16/12/2018
Reeditado em 24/11/2019
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