Sombras Fugidias
No âmago da névoa entorpecida,
vaga a alma em seu cárcere silente,
com o espírito em prolixidade rendida,
ante a aurora de um luto inclemente.
Ébrio de saudades e sombras fugidias,
o tempo arqueja em sua senda letárgica,
reverberando ecos de eras sombrias,
na orquestra funérea de vida nostálgica.
A lúnula pálida desponta na abóbada,
reluzindo o ignóbil fado dos aflitos;
nos sulcos da terra, cinzas desoladas,
repousam os sonhos outrora infinitos.
Eis o lamento, em cantilena pungente,
resvala nas fendas do coração errante.
O universo chora, em pranto convalescente,
pelas almas cativas no sopro incessante.
Por entre ciprestes de aspecto severo,
onde o vento entoa murmúrios arcanos,
jaz o vestígio de um amor austero,
esculpido em mármore por dedos profanos.
Nas retinas opacas do horizonte esquecido,
paira a memória de um riso evanescente;
como farol em oceano enfurecido,
que a deriva sucumbe, impotente.
Oh, lúgubre fado, que em véus se encerra,
cingindo os vivos com laços etéreos,
tu és o arauto que à sombra se aferra,
tecendo o eterno com fios funéreos.
E quando o último suspiro for dado,
no teatro vasto do existir fenecido,
que reste ao menos, no etéreo legado,
um eco de vida no silêncio perdido.