Sombras Fugidias

No âmago da névoa entorpecida,

vaga a alma em seu cárcere silente,

com o espírito em prolixidade rendida,

ante a aurora de um luto inclemente.

Ébrio de saudades e sombras fugidias,

o tempo arqueja em sua senda letárgica,

reverberando ecos de eras sombrias,

na orquestra funérea de vida nostálgica.

A lúnula pálida desponta na abóbada,

reluzindo o ignóbil fado dos aflitos;

nos sulcos da terra, cinzas desoladas,

repousam os sonhos outrora infinitos.

Eis o lamento, em cantilena pungente,

resvala nas fendas do coração errante.

O universo chora, em pranto convalescente,

pelas almas cativas no sopro incessante.

Por entre ciprestes de aspecto severo,

onde o vento entoa murmúrios arcanos,

jaz o vestígio de um amor austero,

esculpido em mármore por dedos profanos.

Nas retinas opacas do horizonte esquecido,

paira a memória de um riso evanescente;

como farol em oceano enfurecido,

que a deriva sucumbe, impotente.

Oh, lúgubre fado, que em véus se encerra,

cingindo os vivos com laços etéreos,

tu és o arauto que à sombra se aferra,

tecendo o eterno com fios funéreos.

E quando o último suspiro for dado,

no teatro vasto do existir fenecido,

que reste ao menos, no etéreo legado,

um eco de vida no silêncio perdido.

Jhonnathan Pereira
Enviado por Jhonnathan Pereira em 01/12/2024
Reeditado em 01/12/2024
Código do texto: T8209629
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