A Política do cão

Em homenagem a Sérgio Buarque de Holanda

Antônio Simão, mais chamado de Tião

É daquele tipo de brasileiro que não nega nada não

Anda pelas ruas e praças como se fosse um mandão

Antônio na verdade é um bobão, pois nem terra para morrer possui não.

Aproveitou a eleição e chegou a chefão

Alto, magro e forte mostrou-se fanfarrão

Do prefeito, do vice-prefeito nada sobrava quando estava perto o Tião

Tratava as autoridades com "inho" e os pobres com bastão

Ficava a escutar, observar e aproveitar qualquer quinhão

Pois trabalhar que é bom Tião não gostava não

Bajular era a ordem em seu consciente de bobão

Mas era inteligente e sua mente flutuava como balão

Antônio aproveitava tudo: natal, aniversário, dia de pais e festas de montão

Nas festanças dançava com todas e até a madrugada deslizava pelo salão

Fazia de tudo: comprava, vendia, escondia, roubava e se alimentava como leão

Aproveitava para fazer imagem, doido para aparecer na televisão

Aos poucos foi mudando e com livros e diploma de bacharel na mão passou a sabichão

Pouco conhecia as letras, mas o povo da cidade tampouco sabia sua intenção

Tião cresceu na política como machão

Com força chegou a campeão

Não tardou para que a "prefeito" Tião chegasse sem alteração

Pintou os cabelos, trocou de mulher, mas continuou a puxar o sacão

Não era mais o do prefeito, tampouco o do vice que chamou de palhação

Lidava com deputados, governadores e ministros da nação

Em pouco tempo, sabendo bajular com emoção

Tião chegou a senador do Brasil - um país que se diz nação

Entrou em corrupção e acreditava que fazia parte de sua missão

Ele sumiu da pequena cidade e, apesar de ladrão, é visto como o "bão"

Na distância a política trabalha com emoção

Tião, o homem da bajulação

Apesar de toda corrupção era deificado como sabidão

E quando voltou à sua cidade foi carregado com aclamação

O Brasil é um país do cão. A democracia de fato não tem lugar aqui não

Nada é preciso saber: a ignorância é o pão

Basta a verdade esconder e conhecer ninguém em vão

Faça como Tião: trate o pobre como anão e garanta ao final o mensalão.