El-Rei D. Luís

D. Luís.

Lipipi, assim lhe chamavam em rapaz,

Foi mestre de galanteio e marinheiro,

Sua mãe lhe transmitiu valores de paz,

Mostrando-lhe o mundo verdadeiro,

Preparando-o para a vida, para ser capaz

De assumir responsabilidades por inteiro.

Contava somente quinze anos de idade

Quando sua mãe partiu, deixando saudade.

D. Luís viajou muito com seu irmão,

Dedicando-se ao estudo das artes navais,

Do brigue Pedro Nunes seria capitão,

Corveta Bartolomeu Dias, funções iguais,

Costas Africanas visita nessa ocasião,

Volta a Lisboa, três cerimónias nupciais.

D. Pedro, mil oitocentos cinquenta e oito,

Dos que o faz regressar, vem com gosto.

Infanta D. Maria Ana, está casamenteira,

Maio de mil oitocentos cinquenta e nove,

D. Luís não faltaria de nenhuma maneira,

Navio Português em alto mar se move,

São bravos marinheiros, de longa carreira,

Unem esforços na jornada que os absorve.

Setembro do ano seguinte, nova história,

O casamento da Infanta D. Antónia.

Mil oitocentos sessenta e um, Novembro,

Dia catorze, reúnem-se as cortes,

Galeria de reis Lusos tem novo membro,

D. Luís é aclamado rei, lançadas as sortes

Há que pensar em casar o rei, relembro

Que se desejavam herdeiros sãos e fortes.

Perfilam-se candidatas, ilustres princesas

Aspiram vir a tornar-se rainhas Portuguesas.

Duas pertencem à Casa Saxe-Coburgo,

Outras duas de Orleães, outra de Sabóia,

Entre tantas, nenhuma cá do burgo,

Naquelas eras, casamento era uma tramóia,

Grande análise, muito maior o expurgo,

D. Luís inclinava-se para uma outra jóia.

Filha da rainha Vitória era a preferida,

Questões religiosas impediram a vinda.

D. Maria Pia de Sabóia seria a eleita,

Filha de Vítor Manuel, rei Italiano,

Princesa inteligente e bela, a perfeita,

Muito daria que falar em solo Lusitano,

D. Luís a traía, não acusou a desfeita,

Partindo, também ela, para o engano.

Rainha e mulher bastante vaidosa,

Só podia arranjar amante de nome Rosa.

D. Luís não teve um pacato reinado,

Sendo confrontado com insurreições,

Primeiro quando novo imposto é criado,

Geral do consumo, fazer comparações

Não me ficaria bem, nem me é autorizado,

Podia levar a indevidas interpretações.

Marechal Saldanha à cabeça do movimento,

Eram ideais republicanos livres ao vento.

“Janeirinha”, assim ficaria conhecido,

Demitir o governo, a pura intenção,

Jogo politico entre boas ideais escondido,

Nunca a politica traz bela sem senão,

“Partido Reformista” daqui se viu nascido,

Perde-se a estabilidade vivida até então.

Movimento origina nome de jornal,

“Primeiro de Janeiro” no norte de Portugal.

Fontes Pereira de Melo é contestado,

Particularmente sua politica fiscal.

António José de Ávila é convidado

Para chefiar novo gabinete governamental,

O fim da regeneração está traçado,

Altera-se o figurino político em Portugal.

Grandes investimentos, fraco crescimento,

Da economia, geraram descontentamento.

Martens Ferrão, nova divisão territorial,

Também contribuiu com sua quota-parte,

Colidia com o forte sentido municipal,

Para legislar também preciso ter arte.

D. Luís enfrentou, ainda, guerra cultural,

“Questão Coimbrã” por ali ser o baluarte.

Terá sido António Feliciano de Castilho,

Quem primeiro acendeu tal rastilho.

Luta travada entre diversos escritores,

Castilho, e seus protegidos, de um lado,

Antero de Quental, e os novos autores,

Na outra face do confronto letrado,

Aqueles de Stato Quo eram senhores,

Estes, novas ideais tinham assimilado.

Manuel J. Pinheiro Chagas e Tomás Ribeiro,

Pertenciam ao grupo daquele primeiro.

Vieira de Castro e Teófilo de Braga,

Dois que apoiavam Antero de Quental,

Cada edição era mais uma chaga

Numa guerra com pouco de intelectual,

Troca de palavras que não mais acaba,

Entrando em questões do foro pessoal.

Ramalho Ortigão critica ataques pessoais,

Acusando os novos de irem longe de mais.

Eça de Queiroz “Crime do Padre Amaro”

Apoia os jovens companheiros literários.

Portugal acompanhava, caso nada raro,

Os movimentos europeus, revolucionários.

D. Luís a tudo assistia sem fazer reparo,

Nos amores, seus favores eram necessários.

Portos de Lisboa e Leixões são iniciados,

Caminho-de-ferro, e estradas, são alongados.

Palácio de Cristal, Porto, é construído,

Escravatura, no reino de Portugal, é abolida,

Primeiro Código Civil é redigido,

Por crimes civis é proibido tirar-se a vida.

D. Luís era, culturalmente, instruído,

Obra de Shakespeare, foi por si traduzida.

Sendo tão grande amante da beleza,

Sexo feminino era uma constante certeza.

Apesar das muitas aventuras apontadas,

Marina Mora e Rosa Damasceno,

São únicas amantes oficialmente registadas,

D. Luís vivia num idílio pleno,

Ou as outras seriam senhoras respeitadas,

A quem convinha romance sereno.

Comportamentos lascivos lhe eram imputados,

Por seu pai, segundo a história, comprovados.

Grandes somas lhe seriam extorquidas,

Por amantes de baixa qualidade moral,

Muitas das acusações que lhe eram dirigidas

Esconderiam objectivos de politica nacional,

Republicanos tinham ambições desmedidas,

Procurando tomar os destinos de Portugal.

Marina Mora lhe daria descendente,

Luís António Pretti, protegido legalmente.

Outubro de mil oitocentos oitenta e nove,

D. Luís, vitima de doença prolongada,

Morre, logo a massa politica se move,

Sonharam ter chegado a hora tão desejada.

D. Maria Pia o ódio, ainda mais, promove,

Com sua conduta, por todos, criticada.

D. Amélia, sua nora, das que mais a criticava,

A rainha, indiferente a tudo, continuava.

De esposa dedicada, inícios do casamento,

Passou, após D. Afonso ter nascido,

A mulher feroz, talvez pelo sofrimento

De saber que D. Luís sempre a tinha traído,

Nunca demonstrou aceitar tal procedimento,

Mas fazer igual foi o caminho escolhido.

“Cá se fazem, cá se pagam” assim pensava,

O marido a traía, na mesma moeda lhe pagava.

Nem só de romances se falava da rainha,

Sua extravagância alimentava comentários,

Banquetes e bailes, nunca estava sozinha,

Numa só noite, vestidos usados eram vários,

Melhores costureiros da Europa, tinha,

Fomentando o ódio de seus adversários.

“Quem quer rainhas, paga-as” frase histórica,

Mil novecentos e onze, acabava a retórica.

Francis Raposo Ferreir

FrancisFerreira
Enviado por FrancisFerreira em 13/10/2012
Código do texto: T3930129
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