Sonho Luso

II – Sonho Luso

Mil cento e vinte cinco, Afonso Henriques

É um jovem com catorze anos de idade,

Arma-se cavaleiro, gestos muito chiques,

Tornando-se guerreiro com liberdade,

Nobres Portugueses lhe apoiam os tiques,

Que pretendiam algo mais, era a verdade.

D. Teresa pouca importância lhes dava,

Preferia o Galego Fernão Peres de Trava.

Afonso Henriques não hesita desafiar

O poder de sua mãe, sonho a emergir,

Mil cento vinte e oito, tudo vai mudar,

O jovem Afonso Henriques aceita dirigir

Forças que se mostram dispostas a lutar

Contra D. Teresa e quem a seguir.

Arredores de Guimarães, S. Mamede,

É aqui que o poder das forças se mede.

Dois exércitos preparam-se para a batalha,

Fernão Peres de Trava está confiante,

Sente a vitória garantida, aquilo não falha,

Tem os Barões Portucalenses por diante,

Considera-os pura e reles escumalha,

Acaba por sofrer pesada derrota, humilhante.

Exaltam os senhores de Sousa e Ribadouro,

Suas pretensões ganhavam ancoradouro.

Seu poder na região estava solidificado,

Portanto não admitiam ter de o perder,

Ansiavam por um poder subjugado,

Tal como no tempo, nunca o esquecer,

Em que Mumadona Dias tinha o condado,

Agora queriam obrigar o Galego a ceder.

Afonso Henriques era visto como o ideal,

Sonhavam manobrá-lo, pensaram mal.

Soeiro Mendes de Sousa “O Grosso”,

Gonçalo Mendes de Sousa “Sousão”

Combateram ao lado do jovem moço,

Tal como Egas Moniz, seu aio de eleição.

Quanto à data certa há um certo fosso,

Vinte quatro de Junho, talvez sim ou não.

Gonçalo Mendes da Maia “O Lidador”

Outro que lutou ao lado do rei fundador.

O jovem resolve assumir a autoridade,

Afonso sétimo de Leão, deveras ocupado,

Não atribui importância a tal novidade,

Bastava-lhe que ficasse salvaguardado,

Por Afonso Henriques, o preito de fidelidade,

Autorizando que conduzisse o condado.

Aumentar o prestigio era seu sonho maior,

Ambicionava vir a tornar-se imperador.

Afonso Henriques, tem ideais, nada o impede

De pela sua concretização batalhar,

Depois de vencer a mãe, batalha de S. Mamede,

Decide, seu primo Afonso sétimo, desafiar,

O Rei de Leão e Castela é forte, não cede

E vai obrigar Afonso Henriques a lutar.

Eram tempos de guerras sangrentas e brutais,

Onde os homens lutavam como ferozes animais.

Um dos primeiros obstáculos enfrentados

Originou outra grande lenda do país,

Fala dos valores morais que foram resgatados,

Junto do rei de Leão e Castela, por Egas Moniz,

Ele e todos os seus se terão feito apresentados

Para que o Rei os enforcasse, este assim não quis.

Começava a travar-se uma luta desigual

Cujo objectivo era a independência de Portugal.

Diz a lenda, é parte da história Portuguesa,

Que o príncipe, em Guimarães cercado,

Prometeu lealdade à Hispânica realeza,

Se aquele cerco fosse levantado,

Nestes tempos era comum esta fineza

Para ultrapassar o obstáculo encontrado.

Não importava o que se prometia,

Importante era salvar a pele, depois logo se via.

Queria tornar o condado independente,

Mas isso só, não era o bastante,

Envolveu-se noutra guerra, outra frente,

Os Mouros, por um território mais possante,

Era guerreiro temido e valente,

Não abdicava de levar seu sonho avante.

Os Deuses não elegiam apenas o militar,

As grandes vitórias nasciam no organizar.

Aproveitando uma trégua com o rei de Leão,

1135, funda o castelo de Leiria,

Mas ao envolver-se, com o primo, em discussão,

Para os Mouros, aquela cidade perderia,

Encontraria mais propícia ocasião

Para reconquistar o que por agora perdia.

Não se deixava abater por uma meia derrota,

A lenda continuava a crescer à sua volta.

O seu, grande, espírito de estratega militar

Leva-o, antes que tudo se complique,

A nova trégua com o primo consertar,

E vence os Mouros na batalha de Ourique,

A fama da sua espada não parava de brilhar,

Cinco Reis Mouros caíram a pique.

Cinco escudos no brasão de Portugal,

Perpetuam tão rude batalha triunfal.

Batalha coberta de dúvidas e incertezas,

Dando origem a lendas, anos mais tarde,

Invocadas quando as cores Portuguesas

Corressem o risco de perder a liberdade,

Atribuíram-lhe poderes de Deuses e Deusas,

Prometeram-lhe toda a sua lealdade.

Jovem guerreiro, bravo e destemido,

Tornar-se-ia, também, homem apetecido.

Foram batalhas longamente disputadas,

Só depois de vencida a de Arcos de Valdevez,

As condições de independência foram acertadas,

Só reconhecidas em mil, cento quarenta e três,

Existem algumas opiniões desencontradas

Na data de reconhecimento do Rei Português.

A concordância centra-se em torno da verdade

Do esforço da Santa Sé na defesa da Cristandade.

É verdade, com dois anos de demora

O rei de Leão e Castela dava-se por vencido,

E, numa conferência realizada em Zamora,

D. Afonso Henriques obtinha o pretendido.

Assentimento do Papa é o que falta agora,

Para que o jovem reino seja reconhecido.

Arrasta-se o tempo até mil cento setenta e nove,

O jovem Rei promete riquezas, o Papa resolve.

Prosseguira sua, triunfante, caminhada,

Mil cento quarenta e sete conquista Santarém,

Depois é a vez de Lisboa ser conquistada,

É Outubro de quarenta e sete também,

Todos se vergam à força da sua espada,

Nada nem ninguém o pára ou detém.

Apregoa a luta em nome do ideal Cristão,

Tudo valia para caminhada não ser em vão.

A conquista da cidade, hoje a Capital,

Sucedeu a um enorme cerco montado

Em seu redor. A mesquita vira Sé Catedral.

Pelos cruzados foi o nosso rei ajudado,

Erguia-se o sonho do reino de Portugal,

D. Afonso Henriques sentia-se encorajado.

A glória está reservada aos destemidos,

O jovem Rei era um dos mais temidos.

A tomada desta importante cidade do país

Está associada a uma história por confirmar,

Diz-se que um nobre, de nome Martin Moniz,

Se entalou na porta, para o exército entrar,

Nascia um herói, terá morrido feliz

A Lusa história o haveria de perpetuar.

Cidade de Lisboa, finalmente, conquistada

E crescia a lenda da sua temida espada.

Ano este, de quarenta e sete, glorioso,

Tomaria ainda mais dois Castelos,

Almada e Palmela, avançava vitorioso,

Erguendo história sem paralelos,

Conquistar Alcácer do Sal lhe dá gozo

Mil cento cinquenta e oito tão belos.

As conquistas não deixam de o acompanhar,

Novo ano, toma Castelo de Cera, Tomar.

Antes mesmo de este ano terminar,

Novas terras para seu reino deseja,

Évoramonte consegue conquistar,

E logo se lhe segue a cidade de Beja.

Perde-a, três longos anos deixa passar

E reconquistá-la é algo que almeja.

De três em três batalhadores anos

Traz novas gentes à gente dos Lusitanos.

Évora sente que sua hora é chegada,

Mil cento sessenta e cinco, ano corrente,

Serpa e Moura conquista de uma assentada,

Apenas um ano lhe passara pela frente.

A vida vai longa e deveras cansada,

derrota em Badajoz o deixa ferido e doente.

Guerreiro destemido, só no fim da sua vida

Sentiu a dor de uma batalha perdida.

Após todas estas conquistas efectuar,

O rei preocupa-se com o povoamento,

A igreja Portuguesa prontifica-se a ajudar

Para a Santa Sé lhe dar o reconhecimento,

Entretanto tivera tempo para pensar

Em tratar do seu próprio casamento.

O reino de Portugal tornara-se realidade,

Agora era preciso tratar da continuidade.

Mafalda de Sabóia foi a escolhida

Para concretizar dois objectivos concretos,

Reaproximação à linhagem perdida,

Como naquele tempo já eram tão espertos,

E a legitimação, Santa Sé, pretendida,

D. Afonso Henriques deu os passos certos.

As batalhas não lhe tiravam outro vigor,

Foi o jovem Rei, também Rei no amor.

Terão sido inúmeras suas amantes,

Chamoa Gomes terá sido a pioneira,

Amores extra-conjugais eram constantes,

Filhos bastardos era prática corriqueira,

Contam-se outras histórias picantes,

Até Condessas terão entrado na brincadeira.

Sua espada ganhara fama de vitória

Todas queriam o seu momento de glória.

Filhos saídos de todas estas relações,

Terão sido uns três ou quatro,

Nada que lhe causasse preocupações,

Limitando-se a assumir o seu acto,

Nestes tempos não constituíam traições,

Como que se aceitava tal facto.

Os casamentos não implicavam amor,

A grande preocupação era deixar sucessor.

Dona Mafalda, Condessa de Sabóia,

Também não seria muito boa de aturar,

Na hora de parir não era nenhuma jóia,

Ai de quem a ousasse enfrentar,

O Bispo de Coimbra provou veneno da Jibóia

Por no claustro não a deixar entrar.

Seu marido combatia o inimigo Mouro,

Ela estabeleceu o serviço de barcos no Douro.

Pode ter sido infeliz em alguns momentos,

Ter horas difíceis no acto de parir,

Mas cumpriu a finalidade destes casamentos

E sete filhos, a este mundo deixou vir,

D. Sancho foi um dos numerosos rebentos,

O sucessor do pai quando este partir.

D. Mafalda tinha nos partos seu pavor,

Ao morrer num, entrou no claustro interior.

Sepultada no Mosteiro de Santa Cruz,

Deixou albergaria para os peregrinos,

A uma igreja em Canaveses deu a luz,

Enquanto ia cuidando de seus meninos

Ainda arranjava tempo para dedicar a Jesus,

Fazia parte dos deveres reais e femininos.

Não terá vivido dias de felicidade,

Nossa primeira Rainha, que Deus a guarde.

Morre Afonso sétimo, Fernando a reinar,

Hesita mas reconhece o reino de Portugal.

D. Afonso Henriques não desiste de lutar

Pelo desejo de alargar o território nacional,

Está invencível, não o conseguem derrotar,

Acredita-se numa protecção Divinal.

Muito mais que um guerreiro valente,

Demonstra ser governante competente.

A fronteira meridional de território é o Tejo,

Mas o rei de Leão mostra-se preocupado,

Um guerreiro Luso conquista no Alentejo

Terras onde ele sempre tinha reinado,

D. Afonso Henriques agradece o gracejo,

Évora, o pedaço de terra conquistado.

Geraldo, conhecido como o Sem Pavor,

Conquista simpatia e bens a seu favor.

El-Rei de Portugal, o temido guerreiro,

Sofre a única derrota aos sessenta anos,

Em Badajoz, acabou por ficar prisioneiro,

Além de fracturar a perna, fortes danos,

Mais uma vez demonstra ser homem matreiro,

Não comprometendo os bens Lusitanos.

Ninguém esperasse vê-lo desistir,

Há que procurar a estratégia que convir.

Encetam-se negociações com o rei de Leão,

Tudo vale, até que consiga ser libertado.

As condições para a sua libertação

Impõem devolver território conquistado,

Não lhe importam pormenores da negociação,

O mais importante continuar o reinado.

A paz não era estado de grande rigor,

Em breve se voltará a falar do conquistador.

Aproveitando esta Ibérica confrontação

Os Mouros, em Santarém o cercaram,

Vale a D. Afonso Henriques o Rei de Leão,

Tréguas com os Muçulmanos assinaram,

Voltava a unir-se o mundo Cristão,

Contra aqueles que enfrentá-los, ousavam.

Os Deuses impunham Santas alianças,

Os homens viam nelas novas esperanças.

Mil cento setenta e nove, Portugal

É reconhecido como território independente,

E D. Afonso Henriques, através de bula papal,

Alexandre III, torna-se rei da Lusa gente,

Adivinhavam-se dificuldades sem igual,

Agora era tempo de se olhar em frente.

D. Afonso Henriques permitiu-se sonhar,

Os Deuses lhe deram forças para avançar.

A igreja de Santa Cruz manda construir,

Tem uma obra-prima da renascença,

O pequeno púlpito, onde podemos distinguir

Figuras de sibilas; profetas e doutores da igreja,

D. Afonso Henriques sabia bem como agir,

Era preciso cimentar a nossa independência.

Combater contra os invasores Muçulmanos,

E ir conquistando terras aos Castelhanos.

D. Afonso Henriques teve reinado de esplendor,

Cinquenta e sete anos de conquistas preciosas,

Mil cento e oitenta e cinco, morre o Conquistador.

Ficou, eternamente grato às ordens religiosas,

Teve nelas um auxilio de grande valor,

Juntos festejaram conquistas das mais valorosas.

Deixava instaladas as bases do reino de Portugal,

Agora era tempo de uma vida imortal.

O seu sucessor estava, há muito, encontrado,

Era seu filho legitimo, D. Sancho primeiro,

Um outro, Fernando Afonso, era filho bastardo,

Não sendo, por isso, seu legítimo herdeiro,

Pedro Afonso também deve ter sonhado,

Tornar-se sucessor de tão nobre guerreiro.

Filhos bastardos, tal as inúmeras amantes,

Seriam realidade comum de futuros governantes.

Morria D. Afonso Henriques, “O Fundador”,

Deixando-nos importante legado,

Voltasse hoje e grande seria sua dor,

Ver Portugal, ao mundo, assim subjugado,

Libertou-nos do jugo do antigo senhor,

Sonhando o que já seu pai havia sonhado.

Homens de tamanha bravura e firmeza

Estiveram na génese da nação Portuguesa.

Francis Raposo Ferreira

FrancisFerreira
Enviado por FrancisFerreira em 01/11/2012
Código do texto: T3964218
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