Nossa Pátria

Soldados e estudantes marcham

numa demonstração de ardor patriota.

O toque da Independência negociada

arrepia nossa pele.

Nossas fronteiras abertas para

novas entradas e novas missões.

A nossa Educação tombada

pelos jesuítas e tradições.

Com data de validade vencida

Nossa identidade descaracterizada e perdida

por anos de violação.

Da terra amada e querida

somos uma nacionalidade construída

em latifúndios de cartas de doação.

Que terra consome seus filhos?

Índios, indígenas, nativos e indigentes

nômades, caçadores e coletores

selvagens e maltrapilhos,

somos gente sem ser gente.

O nosso sol de justiça tem brilho diferente

tem olhos que mais do que cor

enxerga nos cobres e pobres

toda sua esfera de ação.

Açoita a pele do negro, pardo e mulato

nos morros partidos por facções

com a força de uma cega demonstração

como o agir de um nobre

que a espada vale mais que a multidão.

Somos cabanos, favelados e urbanos.

Que nossa bandeira nos cubra

e esconda nossas vergonhas.

Que cubras nossos filhos nas ruas.

Que cubra nossa falta de tudo.

Que cubra nossas estranhas

formas de ser brasileiro.

Pátria de desempregados

Filas e filas que marcham

sem destino ou esperança.

Negreiros atravessam

os Atlânticos todos os dias.

Seus ofícios, almas, mais que valia

vendidos nos transportes coletivos

e buscam motivos

para acordar outra manhã.

Direitos caçados

como nossos animais em extinção.

Nossos bosques estão sem vida

ocupados por mineradoras e tratores.

Elegemos as indicações

dos nossos Senhores

como bons cidadãos.

Moramos no que sobramos

no abandono do campo ou dos morros,

nas periferias ou nos entornos,

nas palafitas ou nas ruas

iluminados pela lua,

os pombais suburbanos.

Marchemos, marchemos!

Nem que nossas pernas Temerm!

Pois gostamos de ser brasileiros

e "não desistimos nunca"

das nossas senzalas e nossas mazelas

das nossas danças e nossa camisa amarela.

Henrique Rodrigues Soares - Pra Fora/ Por Dentro - 07 de setembro de 2017.