Guardo no meu peito
o aroma dos cravos vermelhos
que sem derramar um pingo da sua cor
 livraram do jugo tirano
o meu país sujeitado
Guardo no meu coração vermelho
as baladas com que embalávamos
a Esperança sem chama à vista
Guardo na menina dos olhos
a alegria da com que ia abraçando os soldados
de armas refreadas, joelhos no chão
esperando ordens ocultas
nos portais das casas
nas esquinas das ruas
Levo nos meus braços
desmedidas ramas de sonhos
 
um horizonte de sol
ou a escuridão do cárcere
tudo estava em jogo
 
As floristas do Rossio trouxeram  ramos de cravos
Lisboa inteira veio para a rua
 como se o medo de tão velho e sofrido
tivesse o peso sumido
arrebatava-nos o vislumbre da intrépida liberdade!
 os meninos e os outros empunharam as flores escarlates
para manter as bocas das espingardas
que brotavam cravos e retinham as balas
 
É impossível sequer presumir
 que seria o nosso amado Portugal
não fora a coragem desatada
rapidamente pelo povo acolhida
naquela ditosa manhã do
 Vinte e Cinco de Abril!