Não me calo meu caro

Lá fora as coisas calam

As rosas já não falam

O desamor anda tomando conta das esquinas

E aquelas meninas que tanto amei

Já não têm o perfume da poesia instigante de um sol poente

Tem um Estado doente

Tenho estado doente

Sou paciente de um mundo caduco

Já não consigo colocar rimas nos entreversos

Dos versos dos meus poemas

Mas ainda sou atrevido, incauto

De voltar a sonhar sonhos que um dia dissonhei chorando na chuva

Depois, só depois, me penduro no varal sob o sol quente

E o vento soprado balança, sacode e me acorda pra vida

Lá fora as dores se calam espremidos nos becos

E os medos exalam no suor frio dos poros dos trabalhadores

Lá vai mais um dia

Panela vazia

Boleto atrasado

Pé no chão

Resfriado

Remédio caro

Meu caro

Mas e eu?

Eu não, eu não me calo

Vavá Borges
Enviado por Vavá Borges em 09/12/2019
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