****** Canto IV – Vozes Silenciadas Do Brasil Imaginário

I

Há quem diga que calar é proteger,

Mas o silêncio imposto é faca sem punho,

É sombra do medo no discurso comum,

É Estado que ensina o que se pode crer.

II

A crítica é brasa na noite cerrada,

É lâmina nua na ceia dos reis,

Mas quando o poder se arvora de juiz,

A verdade é acorrentada.

III

Brasil, quantos nomes já esqueceste

Por medo de ouvi-los soar?

Quantas histórias mandaste apagar

Com tinta de lei que nunca disseste?

IV

O povo caminha entre muros e ecos,

Ecos do tempo, muros de papel,

Cada palavra é um fio do novelo

Que o poder desfaz com dedos secos.

V

A dor de Maria não pode ser roubo,

Nem a dúvida, crime sem perdão,

Mas querem que a honra vire nação

E que a história sirva a um só povo.

VI

Quem ousa contar o lado reverso

Do espelho onde o mito se vê?

É logo taxado de vil, de infiel,

Expulso do templo do verso.

VII

Se calo, sou cúmplice do silêncio,

Se falo, sou alvo do punhal.

A liberdade virou tribunal

Onde o juízo é o próprio censo.

VIII

Não há verdade que não suporte

Ser vista sob outro olhar,

Só mentira teme o ar

E se esconde no nome da sorte.

IX

Brasil, de vozes caladas em praça,

Teu chão conhece o peso da mordaça,

Mas quando o poeta te aponta a fumaça,

É fogo de dentro que nunca passa.

X

E mesmo que apaguem os sinais,

E mandem retratar quem questionou,

A alma do povo já despertou:

Verdade não morre em jornais.

De seus casos tão reais,

De esquecer jamais.....