******Canto XXVIII – Brasil do Engano

Brasil do engano,

De um mundo insano,

De um tempo soberano

Onde a vida tem seus planos.

No mar desse oceano

Afunda o desumano:

O falso advogado,

O juiz mal disfarçado.

O presidente enfeitado,

O médico mascarado,

O policial fingido,

O bombeiro corrompido.

O pastor interesseiro,

O humano sem roteiro,

O governador traidor,

O comunicador sem pudor.

O mestre da ilusão,

O historiador em vão,

A ideologia vazia,

A educação que se esvazia.

A mulher sem verdade,

O marido de falsidade,

A mídia vendida,

O eleitor sem saída...

A máscara é rotina,

A mentira se ensina,

A justiça se cala

E a esperança se embala.

São farsas sobrepostas,

Promessas tão desgostosas,

Corações que se endurecem

E na dor permanecem.

Mas do fundo desse abismo

Ainda clama o lirismo:

Por favor, Deus, me ajuda —

Nesse sentimento que não muda.

Mesmo entre feridas e prantos,

Surgem verdades em cantos:

Poesia é o que resiste

Num Brasil que ainda persiste.