"Bailes das aspas que desperta o gigante"— Aqui jaz Brasil...(mas a covardia que pariu um anjo)
Caro leitor, feche os olhos e fale em voz alta:
"Baile das aspas que desperta o gigante
— Aqui jaz Brasil, mas a covardia que pariu um anjo"
(repita até sentir o chão tremer: O gigante é você)
Sentiu?
"Tem gente que afirma que os ‘patrícios’ não escravizaram ninguém..."
Bom, pela ótica de minha ancestralidade retinta —
dos que vieram acorrentados, hoje invisíveis nas estatísticas,
carne barata dos prostíbulos e biqueiras —
"sinhô" mentiu na certidão.
Cinco séculos.
E o plano "estratégico" segue:
— "Querem levar uma penca de pretos pra além-mar?"
Os que adoeceram viraram comida de peixe (Calunga grande agradece).
Enquanto isso, a corte portuguesa, em 1808, fugia de Napoleão
e desembarcou aqui — de mudança, trazendo a coroa, a espoliação,
e um novo capítulo de opressão em nome da "civilização".
Aqui jaz Brasil.
Não a terra — o pau.
Terceira vítima: natureza, indígenas, flora, fauna.
"Pacote moderno": catequese forçada, estupro de terras e filhas,
e um grito de "Independência ou Morte!" que deixou Tiradentes enforcado,
mas a república? Só trocou o chicote pelo voto.
Mas olhe além da história escrita a lápis:
— Palmares não caiu, Canudos não se rendeu,
Os Malês ergueram o Alcorão contra o açoite,
João Cândido fez o mar tremer com a Revolta da Chibata.
"Marielle ecoa no crânio dos algozes"
O morro já desceu muitas vezes
— e não era carnaval.
Aqui jaz Brasil?
Não. Aqui resiste Brasil.
Nos terreiros, nas quebradas, nos versos que sangram,
nos passos que dançam mesmo com os pés feridos.
Porque a carne negra e indígena —
apesar da forca, da bala, da cela lotada —
ainda teima em florescer.
(Querido leitor: feche os olhos. Ouça o tambor.
A história não é um museu
— é um campo de batalha.
De que lado você pisa?)
"526 anos de ironia umami"