******* Canto XXVIII – Brasil da Santa Cruz
Vinte e dois de abril,
data de descoberta,
nasceu Brasil gentil
com alma ainda incerta.
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Terra de Santa Cruz,
por Cabral encontrada,
entre fé, ouro e luz —
foi sonho ou cilada?
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Porto Seguro recebeu
o olhar europeu curioso,
mas mal sabia o que nasceu:
um futuro caprichoso.
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Brasil da corrupção,
da bola idolatrada,
onde a contradição
faz morada consagrada.
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Terra de desigualdade,
salário tão humilhado,
mas o larápio, com vaidade,
é quase homenageado.
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Mata que chora o corte,
rios em agonia,
o verde sem suporte,
a vida sem poesia.
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Desgoverno a comandar
com leis que não sustentam —
fazem o povo sangrar
e os sonhos se ausentam.
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País de festa e bagunça,
mas também de esperança.
Cada dor que aqui se pronuncia
é lágrima de criança.
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Ainda amo este chão,
mesmo em tempos sombrios —
o povo é meu irmão
nos vales e desafios.
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Brasil, minha oração:
que tua luz jamais se apague,
seja vida, seja canção,
mesmo quando a dor trague.