Lembranças de meu sertão...

Trago comido, na rebeldia dos anos passados

As lembranças de minha vida nordestina, tragado pela cidade

Rompendo a solidão que apavora em meios a terras distantes

Lembrança de meu canto, de meu rincão escondido chamado sertão

Ainda tenho guardado na prateleira do quarto uma imagem santa

Que me protege sempre em oração, peço perdão por deixar meu sertão

No oratório na sala em barro abençoado imagens sacras de devoção

Estão por ali, Santo Antonio, Padre Cícero e sem falar Frei Damião

Na tradicional oração de seis horas peço a Deus que me guarde

A nossa senhora que cuide dos meus porque ela é mãe e sabe

Aos anjos da guarda me guiem que retirem dos maus olhados

Que guardem meu caminhar, para assim pode me deitar em paz

No meu tempo de menino, quando ainda nem pensava em trabalhar

Duas coisas me serviam para poder brincar, era os ossos esquecidos

E o barro santo que logo se forjavam figuras, animais e santos

Se tornando fantasias no meu modo de sonhar

Tive no mestre Vitalino em barro cenas distintas de meu dia-a-dia

Carros de bois, violeiros, dentistas, sanfoneiro, zabumbeiro e cantador

Tem também em vida de barro o retirante que traz em sua face à dor

De ir embora sem demora porque a seca chegou

Em suas figuras que meu pai trazia de feira que não ficava longe

Ainda se podia ver Lampião e seu bando de cangaceiros

Procissões de romeiros e viajantes, lavradores na roça e lobisomem

Assim foi me passando brincando com Vitalino no barro do sertão

Encontrei nessa viagem que me fez chorar escondido

Homem não chora já dizia meu velho pai, engole logo esse choro

Quando levava umas palmadas que nunca me fez mal algum

Ensinaram-me a ter vergonha e a respeitar a todos

Na cerâmica que alguns levavam pra feira via logo a beleza

Uns verdes outros encarnados dependendo como foi feito

Ficava logo abismado, ô coisa, mas bonita pra sala embelezar

Minha fica a gritar ô João corre vai La buscar

E quando ia pra feira cordel ficava a escutar

Achava muito engraçado as capas que tinham por lá

Era uma tal de xilogravura certo dia ouvi dizer

Ma s me perguntava como fazia pra colocar

Encontrei Chico Ribeiro homem sabido que existia por lá

Ele me disse que eram gravuras feitas em madeiras

Que traziam fincadas sobre elas coisas do imaginário popular

Não entendi muito bem, mas fiquei a admirar

Essa viagem vou por aqui terminando, pois já me fiz cansar

Não das coisas de meu sertão, mas das acontecem por lá

Temos que nos lembrar que raízes carregamos

E como e santa essa cultura que ainda me faz arrepiar

Trago fincado comigo as imagens, os cordéis, bonecos de barros

Seu Luiz, mestre Vitalino, o sertão com seus vaqueiros cantadores

Que trazem em seu grito o triste viver da seca

“Minha vaca estrela e o meu velho boi fubá”...

Deixo aqui a mensagem quem não conhece vá por La

Pra ver a alegria desse povo e tenho certeza vai gostar

Como tudo que vai encontrar, eita sertão veio iluminado

Espero logo voltar, sair da capita pra poder no sertão ir morar...