UM POUCO DE MINAS - VII

QUESTÃO DE SORTE

Colher de ferro areada ,

chapa de fogão brilhando

Por mais bonito que seja,

não é tudo que se almeja...

Quisera ter tido mais sorte

Com sabão bão de espuma

e faca boa de corte

.................................................................................................

MÁQUINA DE COSTURA

Não importa se de pé ou mão,

O que costureira não suporta

é máquina com defeito

canelinha que embola linha

linha que arrebenta

ponto com repuxo no verso

E lá se vai

a qualidade da costura

E lá vem

Mulher reclamando da saia, da blusa

Homem reclamando da calça, da camisa

Paciência nenhuma atura:

muita roda, pouca roda

Bolso raso, pouco caso

Um balaio... Apertado...

Mal feita...sambada

Comprida... Sureca

- O dinheiro do feitio?

Uma merreca

.................................................................................................

CALOS NAS MÃOS

Na roça, todo poder vem das mãos

O roceiro amansa gado,

alimenta, cuida, vacina

E faz tudo de bom grado

Corta crina de cavalo,

escova o pelo, apara o casco

Ajuda vaca dar cria

desmama bezerro,

corta umbigo, cura

Ainda chama isso tudo

de divertida aventura

...............................................................................................

FAZENDA

Entrerromper do dia

sonâmbula gadaria

fuMega-café com magia

.................................................................................................

GESTÃO EM QUESTÃO

É uma decisão errada

Vender toda a bezerrada

Pra proteção da pastagem

Se está longe a estiagem

Salvo melhor juízo

Vamos levar prejuízo

.................................................................................................

PRECÁRIA VIDA AGRÁRIA

Foi sempre assim

Linha clara e roupa escura

Agulha que se procura

Cabelo carente de aparo

Tesoura que não se acha

Cinto faltando fivela,

Brinco faltando tarraxa

Janela faltando tramela

Ir à festa só pra vê-lo

E ver que ele está com ela

.................................................................................................

BOCA

Doce? Devezenquandamente

Comida? Cisco

Carne? Pouca

Não me arrisco

Peixe morre é pela boca

.................................................................................................

PROLE

Um filho no colo,

Outro no ventre

E a peleja de sempre

Da semente que se planta

é que nasce o que se come

A barriga quando ronca

Não tá mentindo pra fome

.................................................................................................

FALAS

Há um só sentir

Só varia o dizer

tiamo

tiestimo

adorocê

.................................................................................................

PERNOITE

É só um canto para descansar o corpo

Não sou poeta, sou aprendiz errante

Liberto palavras que se digladiam no peito

Vivas, mortas ou agonizantes

.................................................................................................

Maria do Carmo Fraga(MarianaMendes)
Enviado por Maria do Carmo Fraga(MarianaMendes) em 21/06/2019
Reeditado em 10/06/2023
Código do texto: T6678542
Classificação de conteúdo: seguro