UM POUCO DE MINAS - VII
QUESTÃO DE SORTE
Colher de ferro areada ,
chapa de fogão brilhando
Por mais bonito que seja,
não é tudo que se almeja...
Quisera ter tido mais sorte
Com sabão bão de espuma
e faca boa de corte
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MÁQUINA DE COSTURA
Não importa se de pé ou mão,
O que costureira não suporta
é máquina com defeito
canelinha que embola linha
linha que arrebenta
ponto com repuxo no verso
E lá se vai
a qualidade da costura
E lá vem
Mulher reclamando da saia, da blusa
Homem reclamando da calça, da camisa
Paciência nenhuma atura:
muita roda, pouca roda
Bolso raso, pouco caso
Um balaio... Apertado...
Mal feita...sambada
Comprida... Sureca
- O dinheiro do feitio?
Uma merreca
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CALOS NAS MÃOS
Na roça, todo poder vem das mãos
O roceiro amansa gado,
alimenta, cuida, vacina
E faz tudo de bom grado
Corta crina de cavalo,
escova o pelo, apara o casco
Ajuda vaca dar cria
desmama bezerro,
corta umbigo, cura
Ainda chama isso tudo
de divertida aventura
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FAZENDA
Entrerromper do dia
sonâmbula gadaria
fuMega-café com magia
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GESTÃO EM QUESTÃO
É uma decisão errada
Vender toda a bezerrada
Pra proteção da pastagem
Se está longe a estiagem
Salvo melhor juízo
Vamos levar prejuízo
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PRECÁRIA VIDA AGRÁRIA
Foi sempre assim
Linha clara e roupa escura
Agulha que se procura
Cabelo carente de aparo
Tesoura que não se acha
Cinto faltando fivela,
Brinco faltando tarraxa
Janela faltando tramela
Ir à festa só pra vê-lo
E ver que ele está com ela
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BOCA
Doce? Devezenquandamente
Comida? Cisco
Carne? Pouca
Não me arrisco
Peixe morre é pela boca
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PROLE
Um filho no colo,
Outro no ventre
E a peleja de sempre
Da semente que se planta
é que nasce o que se come
A barriga quando ronca
Não tá mentindo pra fome
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FALAS
Há um só sentir
Só varia o dizer
tiamo
tiestimo
adorocê
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PERNOITE
É só um canto para descansar o corpo
Não sou poeta, sou aprendiz errante
Liberto palavras que se digladiam no peito
Vivas, mortas ou agonizantes
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