Destino de Sanga Clara

DESTINO DE SANGA CLARA

Me confesso sanga clara

escorrendo - além lonjuras -

Esguia e simples figura

que tamanho encanto esconde!

Vertida "sabe Deus" onde,

tenho o idioma dos remansos…

E apenas sei onde alcanço

quando o campo me responde.

Neguei amores e juras

dos aguapés sonolentos;

E, por dias mormacentos,

fui espelho ao céu de outrora.

Me espicho invernada à fora,

como um pranto descabido…

E toco a flor dos vestidos

das lavadeiras senhoras.

Nesta quietude que guardo,

sei de tudo que me cruza!

...Do cruzador que me usa

pra minguar sede e cansaço...

...Do alambrado feito a braço

na costa por onde vou…

E a tropa que descansou,

pesada e se tranco escasso!

A voz antiga das grotas

escuto, seja onde for!

Mas desvio o corredor

pela razão da distância.

Na mansidão da constância

em que me basto, com calma,

sou sanga clara da alma

que existe em qualquer estância!

Vez por outra, a cavalhada

me cuida, de olhar estranho,

pois não revelo o tamanho

embora sendo pequena.

Mas pouco tenho de penas,

tampouco penso o malgrado.

- Sanguita sem cruz ou fardo

que segue firme e serena!

Toda esta sina genuína

que me condena a ser sanga,

eu sei que - por certo - zanga

alguma aguada lindeira.

...Como posso, prisioneira

do lugar onde nasci,

andar livre por aí

sempre adiante das porteiras?