O SERTÃO MOLHADO

O que houve com a Terra?

A terra nunca mudou;

A terra de chão rachado,

Partida de tanta dor.

A terra quase sagrada, às vezes quase sangrenta, das veias do agricultor.

A terra que nos tocou!

Meu Deus, que terra é essa?

Que terra mágica de esplendor!

Com chuva ou sem chuva,

Com sol ardente ou com aguardente,

A terra atravessa anos e anos, pelo fio condutor.

Movida pelo calor.

Cadê os senhores da Terra?

Cadê as terras do senhor?

Cadê o “cabra da peste”?

O clima pode ser árido, mas nunca estéreo de amor.

Que planta nasce da terra?

Se não for semeada?

Procure os donos das terras, mas, não puna o trabalhador.

É preciso achar a nascente das águas e não cercar o bebedouro.

Que rezem;

Que façam preces;

Que dancem a dança da chuva;

Que façam simpatias;

Que tenham fé!

Mas, não atribuam a Deus, todas as mazelas...

Com a passagem na mão, triste e na solidão, acuado e sem raízes, percorrendo a contramão, parte o sudestino, pobre, com o coração na mão, sem saber arar o solo, sem conhecer o Sertão.

Busca uma saída na terra seca para se ter ganha-pão.

Vai tentar o sudestino, no Nordeste ser um digno cidadão!

Vai plantar e vai colher?

Vai tentar sobreviver? Ou vai buscar a marquise pra viver da compaixão?

Apreenderá com o nordestino, a força de pé no chão...

Pobre sudestino que outrora fora rico!

Não se armou para a guerra, não conhece o gibão.

Descobre que tão grave quanto à falta de chuva é o cadeado e o portão.

Sente a dor de ver seus falsos heróis encarcerados,

Secaram o seu Estado, como a seca do Sertão.

E o nordestino acolhe, pois, já conhece o trajeto de quem percorre o universo na escuridão. Juntos comemoram a chuva no molhado do Sertão.