João, comprou um garrote
E, como se fosse um dote
No fogo alto rolou
Quis convidar, convidou
Quis comer, se deleitou
Até da bebida sorveu

E a tantas horas da noite
Cambaleou, tonteou
Foi, de um lugar para o outro
Colocou bofe de fora
A tarde tomou seu rumo
E escureceu, como o breu

Mas, e João? E agora?
Se foram seus convidados

Cambada de pau mandados
Uns com louças e talheres
Outras, com coisas mais
Depenaram todo o barraco
E nem um jumento doente
Eles deixaram pra trás

Se você leva, eu também
Alguns ainda brigavam
E por cima do corpo passavam
Tratando João com desdém
E este, qual moribundo
Um pobre verme no chão

Levantou, já era dia
Com os gritos de Maria!
Que naquela festa, faltou
Tinha banhado seu corpo
Com dois banhos de bacia
Na noite que se passou

E foi na água de colônia
que com alguém proseou
Era Aquino, o vizinho
Que por causa
De uma intriga
João não quis convidar

O maior erro do mundo
Que num futuro bem logo
Daria a João nova casa
Assoalho de madeira
Porta bem trabalhada
E palha pra se deitar

Mas, e o pobre João?
Aquele coitado, infeliz

Malcriado e ignorante
De uma infância sofrida
De alegria tolhida
Só não se foi por um triz
Graças a dona Constância
Que não perdia a esperança

Que, pobrezinha da vida
As vezes, até sem comida
Criou João, mais dez filhos
Sem a ajuda de seus pais
João virou bóia-fria
E o resto, capataz

Hoje, pobre miserável
Analfabeto, intragável

Se amasiou com Maria
Puta velha, velha tia
Que dava arrego na praça
Nos dias de feriado
Quando João maltrapilho
Se enfiava na cachaça


Um certo dia de sol
Chegou atrasado João
Na festa que acontecia
Pra santificar nascimento
Do filho de Zé Simão
Afilhado de Maria
O Guardião
Enviado por O Guardião em 14/05/2008
Reeditado em 15/05/2008
Código do texto: T988987