Bem-Ti-Vi

Como é bom ouvir o canto

Do bem-ti-vi alarmento,

Abrindo o fole do vento

Na manhã ensolarada.

Batendo as assas, faceiro,

Cantando pro mundo inteiro

Numa alegre gargalhada.

Como bardo, eu bem te vejo,

Meu amigo bem-ti-vi.

Quanto cantas por aí,

Nesta alegria incontida,

Tu cantas feliz da vida

E ensinas que, quando canta,

O peão, males espanta,

Da carreata sofrida.

É, então, que o velho peito

Rebenqueado ded um gaúcho

Sente mais forte o repucho

Do clamor de liberdade...

A gente sente vontade

De escramuçar campo-a-fora,

Lembrando-se, nessa hora,

Dos tempos da mocidade.

Eu sou assim como tu,

Papo amarelo gaudério:

Não me estremece o mistério,

Pro medo não ter ouvido;

Dos vivos sou previnido

Por questão de segurança.

E não procuro lambamça

Sem precisão ou sentido.

És o exemplo da caragem,

Meu passarinho clarim.

És bochincheiro até o fim,

Desses que a raça não nega.

Botas fogo na macega

Se um maula te invade o rancho.

Um taura, peleando ancho,

Morre seco e não se entrega.

Iberê Machado
Enviado por Iberê Machado em 06/02/2006
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