Meu pago

Denise Reis

Quando nasci

hemolítica por incompatibilidade de sangue

um bem-te-vi cantou para anunciar

que tinha outros maios porvir.

Cismada com a insistência do pássaro

quiz ver o que ele via e os olhos abrir.

Entre os pelegos avistei meu povo rezando

e as chamas de um fogo de chão

foi então que a luz do pampa

aqueceu meu coração

e plantou em meus olhos

os sacramentos divinos da afeição.

Lutei pela vida, sobrevivi...

Assim, sem rédeas floresci

como os brincos-de-princesa e as rosas

nas lides dos jardins.

Herdei a esperança das estrelas

de entre os morros luzir

as Três Marias e a Dalva me guiam

pelos caminhos do bem querer

e os quero- queros me alertam

dos perigos mundanos, desilusões do viver.

Na rebeldia do vento e suas placitudes

selei meus vagantes anseios

de justiça , liberdade e virtudes

do gaúcho , identidade e arreio.

Com versos de chimarrão e jujo

todos os dias aro a alma

para apaziguar as dores dos heróis

meus ancestrais de outrora.

Hoje, o bem-te-vi pouco ouço e vejo

mas a lembrança é amparo, a solidão é verdejo

há motivos de sobra para viver e sonhar

e quando a morte chegar

que minha alma aguarde o próximo maio

e a terra replante seus enlevos em meus olhos

para que eu possa outra vez

renascer neste pago.

Denise Reis
Enviado por Denise Reis em 29/07/2018
Código do texto: T6403291
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.