Minha flauta, minha amiga

Minha flauta, minha amiga,

só tu sabes me ouvir,

tu entendes o que digo,

sabes dizer o que quero

com toda tua voz,

com toda minha força;

decifras em voz sonora

esse meu lamento surdo.

Minha flauta, minha amiga,

em ti eu posso tocar,

pegar-te em minhas mãos,

roçar meus dedos de leve,

levar minha boca à tua

porque ninguém vai falar;

não haverá mais rumores,

não haverá dissabores.

Minha amiga, minha flauta,

vê que não posso falar

mas sei que falas por mim,

embora ninguém entenda

esse teu falar sonoro

quando tudo que te disse

foi na surdina, no toque,

só tua boca sentiu

o sussurrar do meu choro.

Mas vê, minha flauta amiga:

não só a ti quero bem;

não adianta falar

pois sabes o meu segredo,

eu te disse boca a boca,

apontei-te com meus dedos;

jamais ninguém saberá,

de ti eu não tenho medo.

27/05/1977