Reflexo

Não são raras as vezes em que me vejo em você

Serão as facetas da consciência que apontam

minhas caretas, incoerências, reminiscências?

Nada sei de mim. Sou mutável.

Nada possuo que não seja descartável.

O tempo me impele para o abstrato

de um poço cavado sem aberturas.

Seria um sentimento suportável?

Apague-me em você. Não quero me

sentir disforme através de suas formas.

Nem quero sentir o quão sou vulnerável!

Não deixe cheiros, nem marcas, nem sonhos

Devolva-me a imagem límpida para que eu possa

entrar com minhas angústias, minha alegria,

meu senão, meus porquês.

Não seja o meu espelho respingado de passado,

onde as ferrugens levaram o melhor de mim.

Não se sobreponha à minha imagem!

Nem me aponte os erros. Sou tão frágil.

Um demônio desejando ser querubim.

Não coloque sombras nos meus olhos.

Nem invente risos que não dei.

Porque quando minha lágrima cai

leva consigo o amor que sempre sonhei.