Cena II

Você chega

Nada fala

Nada falo

Apenas meu olhar não cala

E lhe ordena que se sente.

Não! Não tente

Ferir o silêncio.

Fecho portas e janelas

Luzes apago

Me coloco à sua frente

E , na escuridão,

Me desnudo

Só meu cheiro

Não é mudo:

Ele grita nas suas narinas

Mas meus passos são silentes:

Uma mulher nua

Flutua...

Acendo uma vela

Junto a meu rosto

E surge na tela

Um olhar azul de desejo

Uma boca vermelha de beijos...

E corro a chama pelos meus ombros

Pelos meus braços

Pelos meus seios

E me ofereço em pedaços.

Desço a vela ao quadril

Me posto de perfil.

Que a pequena chama

Delineie

Minha silhueta....

Não! Não cometa

O desencanto de me tocar

Ancas, coxas

Querem só o seu olhar.

E me volto de frente

Todo o corpo é sombra.

De luz?

Só a flor-de-lis

Gotejada

E uma gota de orvalho-cio

Apaga o pavio:

Só meu corpo queima

Na escuridão.

Vem!

Emília Casas
Enviado por Emília Casas em 10/04/2005
Código do texto: T10706